Francisco Galindo
Já ouviu
do sambante casuarina que do ponto de vista da terra quem gira é o sol? E
pensou se tá certo, se mais ou menos, se mais pra mais? E que do ponto de vista
da mãe todo filho é bonito? E que achou da declarada estética certeira bem no
alvo do afeto? E que do ponto de vista do ponto o círculo é infinito? E rodasse
no disco, arredondado de concordância? E que do ponto de vista do cego sirene é
farol? E ficasse no cimo poderoso de facho de luz das certezas de vela?E que do
ponto de vista do mar quem balança é a praia? E se convenceu no corpo a pesar,
balançando num só prato? E que do ponto de vista da vida um dia é pouco? E
risse e sentisse que nada é bastante e que muitas são as faltas?
Um ponto de vista é sempre um ponto. Lugar de saída,
apenas. Lugar de chegada, somente. Um furo num tecido com agulha enfiada. Uma
passagem pro outro lado que me aceita caber. Seda, lã, ponto de cruz. Por sinal
colocado à direita de uma nota pra esticá-la. Só uma pausa. Um fôlego. Um ponto
pode ser unidade de cálculo das vantagens do seguro de velhice. Sem cálculo no
rim? Sem poluir a vesícula? Um ponto cardeal ofertando direções sem soprar as
escolhas? De fusão, de ebulição, um ponto que tanto fez que se liquefaz? Em
ponto: preciso ou deixo pra lá? Ou ponho nos is e recomponho? Estar a ponto de
e ficar no quase, prestes a sem que às vezes preste?
Não leve a sério seu ponto de vista a ponto de achar que
achou o absoluto. Releve. Quem tá noutro ponto enxerga diferente. E de lá onde
não estamos há uma riqueza que nos escapa. Nossa humanidade não tem a vantagem
dos olhos de moscas, quatro mil facetas a trezentos e sessenta graus. O Deus
que enxergo é o Deus do meu alcance e vai precisar da cara e da fala do Deus
que os outros trazem. Pra gente não se machucar. As minhas escolhas são as que
vi no trilho do meu horizonte. Não precisam do carimbo de melhores, à revelia
dos que andam por aí noutro carril de ferro. O que penso é exatamente isso,
penso é tudo aquilo colocado de mau jeito. No que gosto há um gosto e nele cabe
o sal e o açucarado, o ácido e o amargo. No que sinto há medidas de variação.
Não há de ser igual. No que julgo pode haver loucura ou sentença suspeita.
E pra fechar essas minhas obviedades, deixem que eu
lembre do ponto de vista da lenda chinesa que se perguntava se os pontos de
vista cabiam na senda da ambivalência de sorte e azar: o camponês tinha cavalo
para arar e transportar. O animal escapou assustado numa tempestade. Disseram
que era azar. Voltou acompanhado de mais dois cavalos. Sorte, azar? Pontos de vista.
O filho do camponês montou um dos cavalos selvagens que o atirou longe,
deixando-o acamado. Azar? Ponto de vista. Uma semana depois recrutadores
dispensaram da guerra da China o filho quebrado do camponês. Sorte? Ponto de
vista.
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