Brasília, 13 de setembro de 2012
Muito me honra o convite para ocupar o cargo de ministra da Cultura.
É a possibilidade de participar mais de perto de um governo que tenho
orgulho de ter ajudado a eleger e de ter defendido no Senado Federal.
Existe também a realização de trabalhar numa área que aprecio e sei de
sua relevância. Mas, mais que tudo, é trabalhar sob o comando de uma mulher
forte, arretada e competente. A quem admiro e com quem dialogo muito bem.
O Ministério da Cultura, concebido pelo Presidente Sarney – a quem
homenageio pela sua visão de estadista, não só por criar o Ministério mas por
ter sido o pensador da primeira lei de incentivo à cultura, a Lei Sarney. E ter
nomeado o grande Celso Furtado como Ministro que foi o propulsor desta primeira
Lei tão importante para o setor. Quero agradecer-lhe Presidente Sarney por
compartilhar sua experiência apoio e amizade nestes quase dois anos de
convivência.
A partir do governo Lula, tanta coisa mudou. O Ministério da Cultura
mudou paradigmas, se organizou com uma nova estrutura e visão nacional. Passou
a ter uma visão da complexidade que é a nossa herança cultural e a importância
da participação da sociedade na política cultural brasileira.
Reconheço o valoroso trabalho dos ministros Gilberto Gil, Juca Ferreira
e Ana de Hollanda, a quem agradeço pela gentil e pronta cooperação nesta
transição.
O Brasil tem a cultura como identidade. E é esta riqueza na música,
dança, cinema, teatro, literatura, artes plásticas, gastronomia e nas mais
diferentes expressões da nossa arte, fruto desta miscigenação tupiniquim, que
vamos “cirandar” e aprofundar para deixar uma marca cultural no governo da
Presidenta Dilma. Sabemos o quanto usufruir e criar cultura pode alterar a
qualidade da existência de cada pessoa.
Quero agradecer aos meus colegas senadores pela aprovação ontem da PEC
do Sistema Nacional de Cultura. Muito ajudará na sinergia da política cultural
nas três esferas federativas.
Peço à Câmara o mesmo empenho para a aprovação do Vale Cultura, que
acredito fará uma revolução na vida do povo brasileiro, assim como incentivará
a produção cultural.
Nós temos História, monumentos e museus a serem preservados. Temos
diversidade e frescor de ideias temos o ingrediente principal, o motor da
cultura, que é a criatividade de nosso povo. Tudo isso deverá se interligar,
conversar, experimentar, questionar, romper o estabelecido para poder nascer o
novo. A capacidade de ousar e inovar. O passado nos interessa na medida em que
alimenta o futuro. E quanto mais identificada com sua raiz cultural mais
universal será a obra.
O Ministério não faz cultura. Ele proporciona espaços, oportunidades e
autonomia para que ela se produza. Não podemos aceitar a lógica devastadora do
mercado, a pasteurização de atividades e obras pautadas pela globalização. Ao
mesmo tempo nossos artistas têm que poder viver de sua arte e o intercâmbio
internacional é rico e fundamental para a criação. Devemos incentivar nossa
participação internacional. E este será um outro desafio.
A dificuldade de acesso aos bens culturais, a imensidão do país com
músicas e enredos tão diversos, o contínuo diálogo com todo o segmentos da
cultura e da sociedade assim como com o parlamento estarão sempre presentes
nesta gestão.
Neste século de intensa comunicação e acesso à informação, a excelência
na utilização dos recursos da internet será prioridade para o Ministério. Hoje
podemos consumir muito mais cultura em casa: assistir teatro e filmes, ouvir
música e passear por museus e galerias. Isso é ótimo. Pode gerar sinergia entre
pessoas e obras que nunca teriam como se encontrarem e ao mesmo tempo não inibe
o interesse pela apreciação “ao vivo”.
Ainda conhecemos pouco da influência da comunicação eletrônica na
criatividade. Sabemos de sua capacidade de levar conhecimento, de mostrar o
anônimo, de descobrir talentos e de conectar saberes. Como cultura é algo em
permanente transformação, a internet também presta um serviço quando brinca e
questiona o que está cristalizado. A criatividade se alimenta da ruptura com o
estabelecido.
Quando prefeita de São Paulo, pude atestar o quanto iniciativas
culturais são capazes de alterar a qualidade de vida da população: seja pelo
programa que fizemos de fomento de público nos teatros, pela ampla programação
cultural e espaços para a juventude, criação de orquestras na periferia e dos
21 teatros de primeiro mundo erguidos nos CEUs.
Lembro-me quando inauguramos o primeiro CEU, com a presença do
Presidente Lula e soubemos que 100% das pessoas que o frequentavam nunca tinham
entrado num teatro assim como 87% não conheciam um cinema, muito menos uma
biblioteca.
Abrir as janelas do conhecimento, criar oportunidades de
desenvolvimento e comunicação, de prazer que só vem da comunhão com a arte, foi
uma emoção além de qualquer coisa que pensei poder fazer de útil na vida. Por
isso, presidenta, tenho que lhe agradecer, de coração, esta oportunidade de
poder dar o melhor de mim na construção de um novo tempo para a cultura
brasileira. O desafio de unir a todos em torno de uma política cultural para o
Brasil a altura de seu governo e de seu apreço às artes.
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