Mundo não acabou.
Por José Luiz
Desde menino, quando a ladeira da
Igrejinha ainda não era pavimentada, ouvia falar das temidas noites de escuro.
As “três noites de trevas” habitavam o ideário dos mais velhos e os mesmos faziam
questão de transmitir as novas gerações, especialmente quando faltava luz
elétrica, sobre a possibilidade da ausência da luz solar por 72 horas seguidas.
O fato é que, por um tempo significativo de minha infância e adolescência,
essas e outras estórias me acompanharam até que, com o tempo, outras
preocupações foram surgindo e o folclore foi ficando em um plano distante de minhas
lembranças.
Recentemente a mídia tratou de
reavivar a polêmica do fim do mundo. Na verdade desde sempre o homem conviveu
com previsões, especialmente astrológicas, acerca do término da existência
humana. São inúmeros casos de previsões ao longo dos séculos, todas, para nossa
“sorte”, sem sucesso.
É preciso lembrar que diferente de
previsões anteriores que tiveram grande repercussão, atualmente a Ciência e os
meios de comunicação tem certa participação em ratificar ou desmistificar a
possibilidade de tais eventos, o que não ocorria em tempos de outrora, há
relatos de roubos e mortes em massa causadas por essas previsões, inclusive,
com casos de agressão em praça pública dos profetas que erraram suas profecias.
E assim foi, o anuncio da Agência
Espacial Americana (NASA) veio confirmar a participação da Ciência em tentar
“tranquilizar” a população quanto à possibilidade do fim do mundo. É irônico
pensar, que a mesma Ciência que interveio no caso da interpretação, hoje com
certeza equivocada, do calendário Maia, confirma: o fim do mundo tem data
marcada e coincide com a morte da principal estrela, responsável pela
existência do nosso sistema, o sol. Porém isso é outra história e vai demorar
um pouco, pelos menos é o que dizem os arautos da Ciência.
Pois bem, embora a previsão de 21
de dezembro de 2012 não tenha se confirmado a mídia se encarregou de fazer o
papel que, outrora fora de nossos avós, o de difundir o mito. No entanto, há
uma larga diferença entre esses meios de comunicação. Nossos avós tinham a
intenção de transmitir para as novas gerações os mitos que lhes foram
ensinados, uma transmissão de saberes, um aviso. A mídia por sua vez (opinião
própria) precisava de algo para falar e, em meio a tantos outros assuntos mais
sérios, o fim do mundo teve espaço cativo na maioria das mídias.
Essa importância para com o fim do
mundo também se refletiu em nosso cotidiano. Nas redes sociais, nas nossas
salas de aulas, em outros ambientes de trabalho, nas mesas de bar, sempre tinha
alguém puxando assunto ou tirando uma piada da cartola.
Todos tinha em mente uma pergunta
hipotética: se o mundo fosse realmente acabar no dia 21 o que você faria? As
respostas para essa pergunta eram as mais inusitadas possíveis, pois no fundo
parece que ninguém acreditava que o mundo findaria sua existência naquela data.
Paulinho Moska deu várias dicas em sua música O último dia: “meu amor o que você
faria se só te restasse esse dia?” No entanto, prefiro a predição mais prática
do maranhense Zeca Baleiro: “tá todo mundo com medo do fim do mundo, mas para
mim, pior que o fim do mundo é o final do mês.”.
Mas o mundo não acabou, e aí? O fim
do mês, a corrupção, as injustiças sociais, o consumismo desenfreado, homofobias,
violências contra mulheres, tráfico de seres humanos, as agressões à natureza
continuam. E o que faremos? Para mim essa era a grande questão relacionada com
o dia 21 de dezembro de 2012. Estudiosos sérios do calendário Maia não falavam
em fim do mundo na acepção da expressão, mas em um momento de transição. Na
prática para aquela civilização uma nova era estava se iniciando. E nesse
sentido, Fernando Pessoa, nos convida diariamente a essa transição “é o tempo
da travessia, aqueles que não ousam fazê-la correm o risco de ficar para sempre
às margens de si próprios.”.
Que desafio tem pela frente para
fazer a nossa existência significativa? Que ações individuais e coletivas são necessárias?
Como provocar em si próprio e no outro o desejo de ser melhor a cada dia? Em
nossa casa, nossa família, rua, bairro, cidade e país, o que precisamos
melhorar?
Para minha pessoa, essas são as
indagações fundamentais que 21 de dezembro nos trouxemos. Amanheceu eis o dia
seguinte: o que eu vou fazer? Que conhecimento vai transmitir para minhas
filhas?
Precisamos nos perguntar o
que estamos plantando para que esse mundo seja melhor enquanto dure.
Quanto amor, paz, justiça,
respeito e perdão estão dispostos a semear para que nossa existência valha a
pena e seja digna para muitos que nem conhecemos, mas que dependem de nossas
ações. Mãos à obra, o mundo continua!
Nenhum comentário:
Postar um comentário