quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Mario Lago: vida e obra em exposição.

Exposição “Eu Lago sou” conta a vida e obra de Mário Lago

Exposição Eu Lago Sou conta vida e obra de Mário Lago
Reprodução
Exposição Eu Lago Sou conta vida e obra de Mário Lago

Grande parte da vida e da obra de “Mário Lago” é contada em exposição realizada no Centro Cultural Correios de São Paulo. A mostra começou no dia 31 de outubro e segue até 30 de dezembro. “Eu Lago Sou - Mário Lago um homem do século XX”, já passou pelo Rio de Janeiro, Brasília e Recife, e traz imagens superpostas por frases e versos autobiográficos, cartazes, cenas de novelas e peças teatrais, manuscritos, capas de livros, além de figuras e cenários da boemia carioca, amigos, família, troféus. 


O curador Mario Lago Filho comandou uma roda de samba com sambistas convidados da capital paulista na abertura da exposição. No repertório, músicas e poesias de Mário Lago. A exposição pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 11h às 17h. A entrada Gratuita.

Segundo a coordenadora geral da exposição, Mariana Marinho, a concepção da mostra foi executada de modo que o público sinta que está sendo guiado pelo próprio artista. “A sala principal foi concebida como se o próprio Mário Lago estivesse recebendo o público em sua casa”, explica.

O objetivo da exposição é mostrar para as diversas gerações como o ator, compositor e cidadão carioca Mário Lago influenciou e se deixou influenciar pela sociedade em que viveu – a qual chamava de “moldura do meu quadro”, além de firmar a sua memória como um patrimônio atemporal.

A Mostra nos leva a um passeio cronológico sobre o desenvolvimento do artista e sua interação com os principais fatos do seu tempo, década a década. Assim, é possível se deparar com episódios históricos como a segunda guerra mundial, retratada por caricatura de J Carlos, o Golpe de 64, a Revista Radiolândia, contando a história da inspiração da Música, entre outros.

Quem visitar o evento também poderá ouvir trechos de programas de rádio das décadas de 40 e 50, e ver imagens da novela “Dancing Days” e das séries “O tempo e o Vento” e “Hilda Furacão”. 


Portal Vermelho

Cultura em Debate

Luís Brito Garcia: Identidade, cultura, hegemonia

A Personalidade é a soma do Temperamento e do Caráter que a ação social forja sobre um ser. Não há características psicológicas inatas que definam e distingam os grupos humanos.

Por Luís Britto Garcia, em Cubadebate


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Obra do artista contemporâneo BanksyObra do artista contemporâneo Banksy
A identidade de um grupo social é o que os psicólogos denominam Personalidade Básica: a somatória do conjunto de necessidades, crenças, valores, atitudes, motivações e condutas imbuídos pela ação coletiva, compartilhados pela maioria de seus integrantes e que o distinguem de outros conjuntos humanos.

Assim, a Identidade é também um assunto cultural. Sem cultura, não há identidade. Somos em grande medida o legado de signos que nosso grupo nos transmite e que se confunde com nossa maneira de ser. Mas a Identidade é igualmente um assunto político. Aceitamos fazer parte de coletivos com os quais compartilhamos um sentido de pertencimento.

Maquiavel advertia que a tarefa de um Príncipe que conquistava Estados com religião, línguas e costumes distintos dos de suas outras possessões era tão difícil, que devia deixá-los conservar tais características e limitar-se a cobrar um tributo. Atribui-se a ele o ditado “divide e vencerás”, porque nada torna um Estado mais vulnerável do que a contraposição inconciliável de costumes, idiomas e crenças distintos. “Integra e perdurarás”, poderíamos acrescentar, no sentido de que a tarefa do estadista é pôr de manifesto e estimular aquilo que une a coletividade em vez do que a desintegra.

Cultura revolucionária
Cultura é a somatória das criações da humanidade. Estas ativam as forças produtivas, tecem as relações de produção e armam superestruturas ideológicas que mantêm estável um certo modo de produção. Mas dentro deste há forças inovadoras que erigem outra coisa nova: mobilizam novas forças produtivas, estabelecem originais relações de produção, produzem superestruturas inéditas, que destroem o caduco. Não há revolução sem cultura revolucionária. Em todas as épocas os universos da ciência, o direito, a filosofia, a estética, são expressões sensíveis da luta de um paradigma moribundo contra outro que nasce. Toda revolução lança sobre o mundo um dilúvio de temas, formas e estilos inéditos. A soviética, para mencionar apenas uma, criou o construtivismo, o abstracionismo, a linguagem do cinema, a arquitetura e a música modernas. Imaginemos as culturas do Reino da Liberdade.

Hegemonia cultural
Hegemonia é o poder de determinar condutas mais pela persuasão e o consenso do que pela repressão. Toda revolução é filha de uma hegemonia cultural nascente. O pensamento racionalista de Montesquieu, Voltaire e Rousseau predomina sobre o vetusto clericalismo do feudalismo e abre caminho às revoluções burguesas. Marx e Engels abrem o caminho a quase um século de predomínio planetário dos socialismos. Na Venezuela dos anos 1960, 1970 e 1980, a Esquerda Cultural exerce uma quase absoluta hegemonia na poesia, na narrativa, nas artes plásticas, no teatro, na cinematografia revolucionária, na música de protesto, no ensaio crítico, na interpretação materialista da História e no manejo da provocação.

Sob essa hegemonia cultural operam o auge de massas dos anos 1960 e a luta armada com a qual este se defende. Quase toda manifestação cultural importante é criada sob o signo revolucionário; nem uma só grande obra resume ou legitima o ideário da reação. A insurreição é derrotada nos aspectos militar e político, mas o substrato ideológico que construiu segue latente, influi nos levantamentos populares do Meridazo e Caracazo, e serve de marco para a rebelião militar de 1992 e a construção do bolivarianismo. No campo cultural, um dos mais decisivos, a esquerda tem uma hegemonia que pode decidir tudo.

Luís Brito Garcia é escritor e dramaturgo venezuelano, vencedor do Prêmio Casa de las Américas em 1969 e 1970.

Tradução de José Reinaldo Carvalho, do Vermelho


sábado, 11 de outubro de 2014

Se avexe não, o Nordeste é uma belezura!

Se avexe não, o Nordeste é uma belezura!


“Se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada!”, estes são versos da música “A natureza das coisas” do intérprete paraibano Flávio José, músico que resgata o tradicional forró nordestino e tem como principais referências Dominguinhos e Luiz Gonzaga. Além destes, o Nordeste tem outros tantos músicos e compositores que despontaram levando pelo país a cultura rica desse povo lutador e festeiro.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho


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O cordel é muito forte no Nordeste do BrasilO cordel é muito forte no Nordeste do Brasil
Após o resultado do 1º turno das eleições presidenciais, choveu em São Paulo (chuva mesmo, não há previsão) e no Sul do país comentários preconceituosos contra o povo nordestino, onde a votação em Dilma Rousseff foi mais expressiva. Frases como “nordestinos burros” ou “nordestino pobre” invadiram a internet, como se disseminar qualquer tipo de preconceito fosse muito inteligente e esclarecedor.

Mas se avexe não, nós sabemos que o povo nordestino além de muito esperto é também consciente de sua realidade social e por isso decidiu, massivamente, pela continuidade do projeto político que levou, além de água e oportunidades, a dignidade de volta ao Nordeste brasileiro. A região padeceu com a seca até que um governo tivesse vontade política de construir grandes reservatórios e mudar essa realidade, atitude que iniciou com o governo Lula em 2002.

“Quando olhei a terra ardendo qual fogueira de São João/ Eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação?”. Com vontade política e ações concretas os versos dos compositores Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em Asa Branca já não são mais a realidade do povo do Nordeste. Mas nem por isso Luiz Gonzaga perdeu seu posto de Rei do Baião ou deixou de ser um dos maiores nomes da música brasileira.

O Nordeste é também o berço de grandes escritores brasileiros, que despontaram com uma literatura rica. Autores renomados que foram parar no cinema e TV, como Jorge Amado e seus clássicos Capitães da Areia ou Gabriela compõem o vasto repertório da literatura nordestina. Ariano Suassuna, Graciliano ramos, Ferreira Gullar, Patativa do Assaré, Rachel de Queiroz, Manuel Bandeira, José Lins do Rego, são só alguns dos inúmeros escritores nordestinos que conquistaram o restante do país e tornaram nossa literatura reconhecida mundialmente.

Mas além de grandes escritores, o Nordeste preservou um estilo de literatura que hoje em dia dificilmente se encontra em outras regiões do país. Falo do Cordel, a contação de história com rimas e xilogravuras que faz da nossa forma de usar as palavras única e peculiar. Não é difícil encontrar grandes “cordelistas” pelas ruas do Nordeste, vendendo a preços baixos a mais pura literatura brasileira, essa é, por sinal, uma das principais características do estilo literário, a popularização das palavras.

“Abrasileirar” as coisas não é lá uma tradição das bandas jovens nacionais, mas é isso que o Cordel do Fogo Encantado faz muito bem. A banda pernambucana mistura referências do rock’n’roll com brasilidades de forma experimental que rende uma música pra lá de brasileira. Mas além disso, resgata a cultura nordestina. Eles são os responsáveis pela interpretação da poesia de Zé da Luz, “Ai se sêsse”.

E se o assunto é originalidade, Pernambuco também mandou bem ao apresentar ao mundo o som que mudaria nossa forma de ver e ouvir o rock nacional nos anos 90 quando surgiu, de uma “explosão atômica”, a Nação Zumbi com seu maracatu.

Estes são apenas alguns dos exemplos do quanto a cultura do Nordeste é rica, isso só é possível com um povo igualmente culto e esclarecido que hoje prova não ter nenhum receio em mostrar também seu posicionamento político firme e acertado.

Assista ao vídeo onde a banda Cordel do Fogo Encantado narra a poesia de Zé da Luz: