segunda-feira, 25 de maio de 2020

A Cronica da Segunda Feira

Pausas



Janiklessya Oliveira 
Bacharela em Psicologia
 Ministra do Evangelho|

Ah, que palavrinha tão necessária e valiosa, porém não atentada.
Aprendi a importância das pausas.
Por quê o que seria da vida sem elas?
É só prestar atenção na pausa como sinal gráfico, sem o uso dela, que loucura é a leitura do texto.
Tudo fica um atropelo só.
E até mesmo o sentido do que se quer falar, pode ser drasticamente mudado.
A pausa é aquele tempo sossegado, pra recobrar o fôlego e seguir o passo.
Assim é na nossa vida. Se a gente não compreende a importância das pausas. Saímos loucamente atropelando tudo, feito cavalo desembestado. Correndo o risco de não compreendermos e nem sermos compreendidos.

Somos o modo como lidamos com o tempo.
E se não compreendemos a importância do tempo pausado, certamente sofreremos um bocado. Atropelando e atropelados.
Por isso hoje, aproveita a pausa. Recobra o fôlego. Olha pra si com atenção. Toma o tempo da falta daquele afeto, pra ele retomar de forma mais coerente e sóbria. Toma tempo de descanso da mente e do corpo, pra que eles retomem ainda mais vigorosos.
Toma tempo de olhar em volta, e ver aquilo que não via há tanto tempo, porque a pressa te roubara o olhar.
Toma tempo pra cuidar das memórias, e lembrar somente o que for saudável lembrar.
Toma tempo sobretudo para Deus, que a vida a ti concedeu, e que é a razão do respirar!


quinta-feira, 21 de maio de 2020

QUINTA EU CONTO

                                                         A PIPA


por Samuel Freitas

       Gostaria que não me transbordasse o restante que possuo de paciência. Disparou rispidamente Miguel de uma maneira não tão educada a sua pretensa alguma-coisa _Sempre essa repetição irritante sobre coisas já ditas e esquecidas. Já basta, não acha? 
   Era sempre assim que principiavam (ou terminavam) qualquer tipo de conversa. Seja discorrendo sobre política, filosofia, música, tempo… o colóquio entre ambos estava fadado à discussão. 
     Júlia não pretendia ser apenas um projeto de alguma coisa futura pro Miguel, desejava do fundo mais superficial da alma possui-lo como consorte.              -Difícil não transbordar o raso_ replicou Júlia de maneira formalizada. 
       Esse projeto de casal novelesco mexicano se conhecera da maneira mais singular possível: redes sociais. Essa alcova pública onde projetamos um Superego natimorto, informe e em decomposição. De maneira despretensiosa foram trocando carícias binárias (caro leitor, não nesse sentido aí), elogios fotogênicos, defesas de pensamento compartilhados e todas as dissimulações necessárias para o bom convívio nessa evoluída sociedade.
        _ Bom dia, minha Ninfa dos Elísios Campos.  
        _Buenos, Ogro do meu pântano.  
     _Vixe, que ela acordou deveras romântica. Como assim do seu pântano? Acordou, por um acaso, com diarreia?  
       _Credo! Tá justamente nesse seu palavrório toda a imundície já, seu Ogro.        _Já vai começar? Com um senso de humor desse não admira acordar em um pantanal. Avia, levanta e vai se limpar!
      Imaginem o diálogo daí por diante. Ela bradava queixas e exigia um respeito cortês. Ele simplesmente respondia com gargalhadas transmitidas como um epiléptico tendo crise ao teclado. E eram assim todo instante em que tentavam travar conhecimento.  
       _Júlia, tá melhor?  
       _O que foi agora?  
      Ei, é sério. Não aguento mais esse isolamento compulsório. Estou no limite de cometer uma loucura _ e vindo dele uma loucura podem imaginar que já está reservada a solitária num manicômio.  
      _ O que pretende então, oh senhor Insanidade? Sair correndo nu pela rua gritando que é a cura? Vai é pegar essa Peste e desfalecer num corredor de hospital ou, na melhor das opções, ser preso e levar uma surra da Vigilância da Saúde Ostensiva.  
     _Nada disso. Não vou comprometer minha reputação com obviedades tresloucadas. Eu serei grandioso, soberbo e revolucionário. Irei empinar uma pipa.  
       Júlia não podia se aguentar de tanto que riu ao ler essa extraordinária ideia. Teve leve convulsão que o diafragma lhe começou a arder com tal disparato. Coitadinho, não gira bem mesmo _ prescreveu conformada ela.  _               Estou a falar sério. Veja bem: estando em isolamento qual estamos, uma pipa surgiria como símbolo…  
         _Sim, traficantes que o diga. 
       _Eu disse símbolo, não sinal. Peste primeira da minha vida. Um simbolo que não só remete à liberdade como também a nossa infância, na inocência onde a pureza da própria liberdade nasce e habita.  
       _Pode até ser poético, Miguel. Mas quem irá compreender? Sequer olhar pro céu irão. Há coisas mais visuais na vida deles que o olhar pra uma infância que muitos nem chegaram a ter. Ainda mais em símbolo que desconhecem o significado, por mais que lhes seja explicado.  
     _Pois assim o farei. Uma pipa majestosa, colorida e com flâmula que cortejará até as aves do paraíso. Prepararei um carretel longo e empinarei rumo ao teto da abóboda celeste. Vai ver só!  
        _Uma epopeia de um ato só, isso que verei.  
       _Aí que se engana, ninfa pantanosa. Ela há de cair não obstante em outras mãos. E essa pessoa após contemplar o trabalho artesanal feito no artefato, encontrará em seu dorso uma frase que desnudará toda a esfinge contida em tão simplório objeto.  
      _Interessante, e o que seria esse axioma divino trazido pelas correntes no ar da liberdade? 
      _ Pode me devorar, querida, que não a revelarei. Lá se foi Miguel em sua jornada. Preso em casa e com todos os materiais necessários pra grande obra e com talento razoável sobrevivente das lembranças juvenis, começou seu legado à liberdade… Leitor amigo, não vou me estender em descrições da arte acreditando que já conhecem todo o processo da construção desse monumental empreendimento. Confesso que ficou assaz elegante, digna do regozijo do resoluto criador.  
      _Consegue ver daí?  
      _Onde você está com esse troço? 
    _No quintal estou, mas a pipa já contempla a beirada do planeta lá no horizonte distante.  
     _Tá louco, sabe que não pode tá aí fora. Vai pegar essa Peste maldita, que de tão terrível é bem capaz de corroer até a beleza dessa pipa erguida.                   _Tolices, não me demoro aqui. A liberdade tem pressa e ela já tomará voo sozinha rumo ao seu destino, solta, sem liames…  
      Realmente Miguel não se demorou ao relento. A Peste também não o demorara. Acometeu com uma violência tamanha dele, que aquele entusiasta meio louco, libertário e ranzinza bem humorado não suportou sua investida. Parecia mais que a vida, cansada de não viver também implorava por ser livre da prisão daquele corpo, já aprisionada. A Peste o colocou no último claustro terrestre, onde a igualdade é a única medida.  
       Nunca se sentira tão só e vazia. Desidratada de lágrimas, Júlia definhava junto com a alma. Ela perdera seu Ogro e agora sentia de verdade o que era um bioma alagado, úmido e estéril ao seu redor. Ela perdera o seu tudo, Júlia agora era um vácuo preenchido com o nada.  
       Meses depois e a cura da pandemia descoberta. A sensação de revolta era que tomava todo pensamento agora:  
       _Aquele miserável poderia ter esperado. Empinaríamos juntos aquela pipa imbecil agora tranquilos. Sem receios, filosofando sobre as coisas mais bobas que fossem. E em qualquer jardim seria sua ninfa querida e ele, meu paraíso.          Decidiu partir dali. Em todos os lugares, esquinas e ambientes as lembranças a traia e ela se abstraia a pensar no seu louco amado. Voltando à fazenda da família no interior talvez a fizesse recompor a existência. Os ambientes bucólicos parecem ter esse poder reconfortante com seus orvalhos, cheiro de terra molhada e crepúsculos que anunciam a nudez e beleza da Via Láctea.  
      Era de manhãzinha que tentando se acolher numa sombra fresca de cajueiro, Júlia decidiu descansar um pouco da caminhada. Ali aprontou repouso sobre as raízes e se recolheu. O sol insistia em abrir caminho entre as folhagens e galhos pra atingir como flechas de luz seu rosto avermelhado, rubor dos desacostumados. Depois de prestar continência aos focos que lhe cegavam, conseguiu avistar na copa aquilo que um dia fora o desvario do seu Ogro querido.  
      _Não pode ser! _ exclamou com olhos marejados não acreditando no achado. 
        Júlia buscou em seus instintos mais primitivos as devidas habilidades pra escalada. Os galhos frágeis eram ceras nas asas de Ícaro. E seu alvoroço descabido quase lhe custou o retorno ao desolado labirinto. Com ajuda dum cajado improvisado, estava afinal de posse do Símbolo caído. Era um terremoto só seus nervos, a epiderme em topografia uniforme se elevava, seu coração galopava sem sair do lugar, ela era toda uma mistura de saudade, emoção e alegria. Tateou a pipa como a um filho nunca tido, apreciava cada corte irregular, excesso de cola e emendas, trapos de pomposidade carnavalesca, com aquele ar complacente de quem admira Arte Moderna. A pipa estava um pouco maltratada pelas intempéries, com furos aqui e acolá, hastes em fissuras ou mesmo quebradas. Mas ainda carregava nessas feridas a altivez do que dantes tivera sido. 
      _Espera um pouco! Onde estará? _ Júlia lembrara da dita frase que aquele papagaio-correio trazia consigo no dorso, o que traria significado àquilo tudo afinal.  
      Não precisou muito se esforçar e lá estava subscrito em letras garrafais o que ansiosa havia procurado: PODE NÃO PARECER AGORA MAS UM DIA EU JÁ FUI LIVRE! 


  







domingo, 17 de maio de 2020

Aí está o século que previmos

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diego vieana



Ao que parece, o século XXI começa agora. É o que leva a crer a leitura de tantas análises desta pandemia e tantas reflexões sobre suas consequências sociais e econômicas. E isto, venham de onde vierem: epidemiologistas, estatísticos, antropólogos, filósofos, historiadores, até mesmo economistas. Ou seja, o mundo não será o mesmo depois de meses com populações trancadas em casa, empresas e autônomos indo à falência, cadeias de valor rompidas, pacotes de estímulo governamentais, vigilância total (fundindo a tradicional vigilância sanitária com formas menos bem-intencionadas).

Talvez seja cedo para decretar algo tão drástico como a inauguração de uma era. A rigor, nada impede que o trauma acabe sendo curto, ao menos no campo da saúde (no econômico é um pouco mais difícil), e continuemos a operar como nas últimas, digamos, duas décadas. Mas isto seria só um outro adiamento: mais cedo ou mais tarde, o século XXI vai começar. Mesmo que – vamos supor – do dia para a noite as infecções e mortes mundo afora começassem a diminuir e desaparecessem, como parece ter sido o caso com outros vírus do passado. Então vale a pena simplesmente postular que esta pandemia é o marco inicial do século e explorar o que isto quer dizer.
*
 É claro que não dá para comparar uma doença que se espalha pelo planeta durante alguns meses, como tantas outras já fizeram, a uma guerra de mais de quatro anos que mata milhões, derruba impérios e força uma transformação profunda nas mentalidades. Mas essa é exatamente a comparação que estamos sendo forçados a fazer, então nada nos resta senão explorá-la. Que tipo de fenomenologia, que tipo de tecnologia, que geopolítica etc., estão em jogo se admitimos que o século XXI começa agora?
O cerne do problema está no seguinte ponto: o que se espera para o século XXI? E aqui é que chegamos ao que há de realmente desconfortável, aquilo que explica por que estamos entrando num mundo novo e incerto. E talvez explique também por que estamos tão impacientes para declará-lo inaugurado. Agora é a hora de encarar a evidência de que as perspectivas para as próximas décadas, na boca de quase todo mundo, por todo lado, são bastante sombrias. É assim no campo do clima, da agricultura, da economia, da política e também da saúde.
Seja qual for a atitude que temos no dia-a-dia em relação a todos esses campos, sugiro tomarmos como ponto de partida uma postura otimista. Por motivos puramente metodológicos: mesmo que você seja catastrofista e acredite que a humanidade (como espécie) ou a civilização (como forma de organização) não vão chegar até 2100, peço que deixe de lado por um momento essa filosofia e considere que, sim, vamos desenvolver tecnologias, sabedorias e práticas que nos ajudarão a contornar desafios como a mudança climática (e, se quiser, os exércitos de robôs superinteligentes e psicopatas), chegando saudáveis e prósperos ao próximo século.
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Pois bem. Mesmo adotando essa perspectiva, o que se espera para o século XXI é que seja um período duro, eivado de catástrofes – ondas de calor, quebras de safra, pandemias, cidades inundadas, territórios ressecados, migrações forçadas, pragas, guerras por água e terra arável. Por um lado, sabemos que a lógica que orientou o grosso da atividade humana nos últimos séculos é incompatível com os sistemas naturais dos quais essa mesma lógica depende. Por outro, não temos ideia de como transitar para uma lógica compatível, embora alguns grupos tenham muitas, muitíssimas ideias para modos de vida diferentes. Acontece que a viabilidade da transição segue mais do que incerta.
Antes de avançar, podemos chegar a uma primeira resposta. Dizer que o século XXI começa com a pandemia do Sars-CoV-2, com uma doença de nome tão pouco impactante (Covid-19, uma porcaria duma sigla!), é dizer que estamos pela primeira vez encarando uma situação que, já esperávamos, será típica do nosso século. Estamos vendo, concretamente, nas nossas cidades, nos nossos bolsos e, para alguns, na própria carne, o que significa um mundo de desastres amplificados, multidimensionais, rapidamente disseminados em escala global, que inviabilizam a vida normal por períodos indeterminados.  
Discutimos sobre estratégias de mitigação com um horizonte de possibilidades cada vez mais exíguo; preparamos formas de adaptação cada vez mais drásticas. Mas dificilmente conseguimos incluir no cômputo dessas atitudes todo o escopo das transformações necessárias, porque, no fim das contas, os piores cenários são praticamente inconcebíveis para nós. Pelo menos, porém, enquanto tentamos enfiar na cabeça a seriedade do que será o século XXI, podemos nos dedicar a alguns exercícios de pensamento.
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Que Absurdo



Por Samuel Freitas
Incrível! Não consigo enxergar através das brumas do meu pensamento uma solução para essa existência absurda – principalmente quando deixo de lado meus óculos e me certifico de que ainda sou míope. Mais impressionante é a total falta de escrúpulos que tenho ao admitir que qualquer significado que tentasse dar a vida não passaria de uma apelação, em bem sórdida, em busca de auto consolação.  

Não sei! Talvez se fosse um pouco mais insipiente, tudo seria bem melhor; ou mais confortante. Porém, o que posso fazer? Também acho que poderia, muito bem, assumir o absurdo em mim como prerrogativa inerente do cogito – convenhamos, essa concepção é assaz filosófica para o vulgo. Seria um absurdo viver como um absurdo. Sem caminho; sem diretriz; sem razão para justificar meus preconceitos; sem meios; sem fins; sem amor – Ah! Até tenho a petulância de sentir um ressentimento ao dizer isso assim, tão ríspido –; sem moral; sem convicções... Mas, ademais, as consequências de minha completa falta de recursos imaginários para o percurso da vida são mínimas e irremediáveis, tanto que chega a ser absurda. 

Observes! As consequências às quais me referi já são tangíveis. Olhes meu escrito trêmulo; as frases soltas e abruptas, sem coesão; o desprovimento de nexo e coerência por onde escorrego minha pena. São sintomas da anomalia virulenta que toma cada ser em mim – e na minha ótica, esses seres me governam sem saber dessa enfermidade. 

Eu sou o absurdo, meu caro. Arrasto por ai a existência como o velho Sísifo a vagar com seu inexorável destino. Gostaria que fosse diferente, que a existência me arrastasse mundo afora, mas meu instinto dominador sempre foi mais forte. Portanto, para fins didáticos, o que me tornei foi justamente o que nunca deixei de ser. Calma, serei mais claro (vai levar um esforço incomensurável) dessa vez: Eu, reles humano, sou demasiado eu para mudar-me; ou seja, como causa priori de todo o aparente, estou fadado a mudar todas as coisas em si para todas as coisas em mim, quando bem entender. Tudo é, porque tudo sou. Há fragmentos de mim em tudo o que penso. Que loucura! Dirás com piedade. então que seja o tema principal dessa leitura, direi eu – afinal, deve ser loucura mesmo; já que nem sei o quê, como ou por que peguei a escrever esse pergaminho (...) é uma pena expiatória ter a razão do seu lado quando esta se torna irrelevante para o superego do semelhante. 

Chega de fingir! Tu que tanto se regozijas com suas atitudes honrosas, jogando confetes e soltando ovações; que recitas Drummond; que discursas em botequins; que reprimido fornicas com agressividade; que choras dissimulando uma sincera empatia; que cospes na cruz para poder lustrá-la melhor... Sim tu, impostor de mil faces. Para dessa mania estúpida de fugir de mim. Eu sou tu. Tu és eu. Somos nós os outros; e os outros, nós mesmos. Pode parecer estranho, o que na verdade é, mas é bem mais lógico assim – pelo menos acho. 

E nós que pensávamos em nunca ler aquilo que nem chegamos a escrever, hem? Desculpe-me, acho que me excedi um pouco... por gentileza, mais um drinque!  

Por Samuel Freitas