quarta-feira, 24 de junho de 2020

Escrever




Janiklessya Oliveira
                                                                                                         
Escrever
Escrever é deixar a alma fluir
É esbravejar
É dilacerar o coração
É transforma-dor
Ah,escrever
Por isso escrevo
Escrevo o que sinto
Escrevo o que vejo
Escrevo quando amo
Amo quando escrevo
Amo escrevendo tudo aquilo que desejo
Escrevo o que leio
Escrevo o que canto
Escrevo o que grita
Escrevo também encantos
Em cada canto
Vou me deixando no que escrevo
Me vês?

terça-feira, 23 de junho de 2020

ENCONTRO COM A POESIA

                                               Vida


Por Janiklessya Oliveira,

Poesia divina de alegres cantos
Das dores vencidas
De sabores e Encantos
Da sabedoria à liberdade
És a sinfonia do Amor
Amor que se deu
Amor que me deu: PLENITUDE


aniklessya Oliveira,

A CRÔNICA CONTINUA....


 

TEIMOSIA



                 
Francisco Galindo

        O que é que faz um teimoso? Essa é uma explicação que nos fazendo falta abre passagem para teorias diversas. O peste do teimoso e a peste da teimosia são bem possivelmente responsáveis pela derrocada do paraíso. Adão convencido de que devia comer nada e ninguém e Eva obstinada a provar uma maçã que havia de ser nada e acabou dando no que deu.
            Na semana que passou, e estamos falando de  junho deste estragado ano de pandemia, a Nature, prestigiada revista científica inglesa, publicou resultado de um estudo de pesquisadores da University College London esclarecendo que a famigerada  teimosia é fabricada em processos neurais.  O sujeito uma vez formulando seu ponto de vista, dele convencido, encalacra numa solução química e aí dispersa até o que os neurologistas chamam de viés de confirmação, que seria uma chance de contraprova, a chance de mudar e melhorar a opinião.  Quem diria que a velha teimosia fosse mapeada num scanner de magnetoencefalografia?
Não está desautorizado o influxo da ideologia e dos afetos em nossas certezas dominantes. Mas fica cientificamente provocada a ideia de que ideologias e afetos entram antes. E que há uma volatilidade relativa das opiniões até que seu cotejamento se esgote, que a gente suspenda a absorção de novas abordagens e adote uma escolha. Em determinado ponto de confiança, o cérebro resolve fechar convicção e aí aciona um cimento químico que em boa medida sentencia: até aqui eu achei assim, aqui eu fico com o que acho.
Os neurocientistas esclarecem que esse processo individual favorece a teimosia em conjunto. A ideia de sobrevivência e aproximação de pessoas que pensam semelhantemente. Isso possivelmente explique o congregar nas igrejas, a sedução pelo mesmo time de futebol, o gosto pelo igual agrupamento político e seus determinados gurus,  que se não necessariamente teimosos, muitas vezes o são e provocam avarias. Teimosia sugere impermeabilização, uma recusa ao novo, uma resistência ao diferente. Assim, as teimosias costumam ser arriscadas, podem por exemplo arregimentar conjuntos terroristas, gabinetes de ódio, coletivos rígidos.
Sustenta-se que a infância é tempo fértil da teimosia. Uma birra associada a autoafirmação que pede lá os cuidados suficientes para restaurar os eixos. Problema é quando avança para o transtorno de oposição desafiante e perturba o adulto em suas relações. Com a ciência agora oferecendo luz sobre implicações neurológicas, a gente ganha algum instrumento para compreender porque tantas vezes a teimosia é pesadamente absurda. Como é que o sujeito finca o pé no convencimento de que a terra é plana, contra as evidências dos registros arredondados da nossa casa azul? Por que contra todas as arras há quem negue o aquecimento do planeta, ainda que derretam geleiras, que a seca estrague no sul, que os ciclones assustem lugares onde jamais passaram?
De alguma forma, o estudo ajuda a explicar os teimosos da política, os fanáticos de algumas religiões, os torcedores mais exaltados e ajuda a entender o rapazinho que escreveu na traseira do caminhão: “não carrego rapariga, nem polícia”. O guarda o parou e deixou bem claro que aquilo era desacato. Que tirasse a frase, sob pena de numa próxima passagem ser multado. O rapazinho passou  segunda vez com a frase do mesmo jeito. O guarda irritado:
- Não te avisei, safado? Pague noventa reais pelo desaforo.
O rapazinho passou terceira vez tal qual. E o guarda:                                                        
- Ah, infeliz! Pague cento e oitenta pelo atrevimento.
Aí o rapazinho passou quarta vez com um recado na traseira:
- Apaguei, mas não carrego...
                                                                                                                                
         FRANCISCO GALINDO

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A CRONICA DA SEGUNDA FEIRA

O Tempo



  Janiklessya Oliveira

A madrugada se aproxima.
O relógio anuncia o compasso do tempo.
Na cidade, silenciosa, ouço o tic-tac do relógio e o som das batidas do meu coração.
É chegado o tempo de adormecer.
De repousar.
O tempo fora, difere do tempo de dentro, que já sinalizava há tempo, o tempo de descansar.
Logo, a cabeça reclino ao travesseiro, dirijo algumas palavras ao Eterno.
E repouso, segura, na fé de um novo amanhã por Ele preparado, e que breve, muito breve, vai chegar. 


terça-feira, 16 de junho de 2020

SÓ A LUTA AMADA EVITA A DITADURA


                                                      
                                                                                    Fernando Gabeira

Meu texto sobre a urgência de uma resposta coletiva aos avanços autoritários de Bolsonaro alcançou muita gente de minha geração.

Felizes com a ideia, todos se preparam, sabendo que o bastão há muito foi passado para as novas gerações. Não importa a importância do papel, o que importa é estar presente.

Da minha parte, a situação é clara. No passado, deixei o país. Hoje, sinto que o país é que está me deixando, dissolvendo-se numa bruma viscosa, tornando-se irreconhecível.

Por isso, quando um grupo gaúcho sugeriu a ideia de uma luta amada, disse imediatamente que para mim caía como uma luva.

Durante muitos anos, ao lado de outros, construímos uma legislação ambiental para proteger nossos recursos naturais. Relatei, por exemplo, o projeto do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, conhecido como Snuc. Parece um nome de cachorrinho, Snuc, mas encerra uma realidade de florestas, montanhas, rios e manguezais que visito com frequência.

Quando vejo que estão querendo desmontar a legislação, aproveitando-se do nosso foco na pandemia, quando ouço que querem fazer uma boiada passar sobre a tenra grama de nossa rede de proteção, sinto claramente que estão nos levando o Brasil.

Ao saber que Bolsonaro decapitou a direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, apenas para atender ao dono da Havan, sinto um calafrio. É um homem que vendia produtos chineses e tem uma cadeia de lojas com uma cafona Estátua da Liberdade na porta.

O Iphan foi dirigido por intelectuais como Rodrigo Melo Franco, Aloísio Magalhães, e Bolsonaro escolheu agora a esposa de um dos seus seguranças, para tomar conta de 1.300 bens materiais e 25 mil sítios arqueológicos. Foi barrado pela Justiça Federal.

Bolsonaro acha que nosso patrimônio se confunde com o que ele chama de cocô de índio cristalizado.

Das estátuas do Aleijadinho às pinturas rupestres da Serra da Capivara, é desse rico conjunto que extraímos o sentido de identidade nacional e também postos de trabalho para muita gente. Passam com uma boiada sobre os bens naturais e com um bando de javalis sobre nossos bens culturais.

Pena que os militares tenham embarcado nessa canoa. São potenciais interlocutores. Conhecem bem o Brasil. O escorregadão geográfico do general Pazuello foi apenas um acidente isolado.

Não sei se os militares estão usando Bolsonaro como um bode na sala, para depois se apresentarem como moderadores no pântano que ele criou. Ou se simplesmente se deliciam com o acúmulo de soldos e salários como os militares da Venezuela.

Em ambos os casos, estarão perdidos para sua tarefa maior, a defesa nacional. Não importa quantos aparatos de guerra possam comprar, se não têm mais o respeito do povo brasileiro.

De que adianta entrar para o Ministério da Saúde e empilhar cadáveres com a naturalidade com que pintam as árvores de branco?

Nossas populações indígenas estão sendo dizimadas pela Covid-19, nossa juventude negra massacrada pela opressão policial, nossas favelas organizam-se como podem para substituir um governo ausente na pandemia, ausente em todos os tempos.

Só não saímos às ruas porque o vírus tem sido implacável com os mais velhos. Por mais que Bolsonaro arme seus aliados e os filhos lutem para trazer do exterior novos brinquedos de morte, é preciso viver um pouco.

Na verdade, é preciso cautela nas ruas, pois todos precisam estar vivos. Cada um de nós que resiste é um pedaço do Brasil que pede socorro à humanidade, ao que resta de humano na humanidade.

Nem todos sabem como este país é grande, diverso, solidário, magnífico em sua beleza. Impedir que se dissolva nas mãos de vendedores de bugigangas, grileiros, racistas, incendiários é a grande tarefa de construir uma civilização tropical onde querem apenas pasto, fuzis, asfalto, carros e eletrodomésticos.

Como não suprimir o “r” das lutas passadas e chamar isto de uma luta amada? Como não compreender que todas as gerações pretéritas nos lembram de que o Brasil existe para todo o sempre, e que reinventá-lo depende de nós?

Artigo publicado no jornal O Globo em 15/06/2020


segunda-feira, 15 de junho de 2020

A cronica da Segunda Feira


I CONCURSO LÍTERO-POÉTICO DO CAFÉ FILOSÓFICO PÃO DE AÇÚCAR – AL

2º LUGAR – CATEGORIA: CRÔNICA Carlos Alberto de Assis Cavalcanti – Arcoverde - PE

  

                           TEMPOS SOMBRIOS
    

                     Paira no ar um silêncio sepulcral. Não há como escrever uma crônica nos dias atuais de confinamento e apreensão. As ideias se diluem em meio ao clima de desconfiança que cerceia a capacidade de criar algum texto de entretenimento ou leve digressão sobre a vida ou algum acontecimento cotidiano. 
                   A folha, enroscada na velha máquina, continua em branco como se adivinhasse que, cá nos meus pensamentos, também deu um branco. 
                   Ouço Beethoven dedilhando Sonata ao Luar no vinil que gira cadenciadamente na vitrola. Talvez um conforto para a alma acuada dentro desse corpo alquebrado pelo tempo intransigente que cobra cada minuto da nossa existência com a ferocidade de uma ave de rapina. 
               O que fazer, então, se o toque de recolher esvazia as ruas do seu movimento habitual, quando as pessoas correm e gritam e esbarram noutras nesse trajeto diuturno pela sobrevivência.                           Agora, até parece que os cemitérios estão mais barulhentos do que as avenidas e praças. A humanidade virou refém do vírus. Sua ausência física se materializa nos corpos que ele habita e rói sem pedir licença. Subtrai a porção mais divina da existência: o ar soprado com que o resto funciona.                Sem o “fôlego da vida”, nada mais presta para coisa alguma. Pouco adianta o corpo escultural e as joias nele exibidas ou mesmo, como ocorre a tantos, os ossos exibidos.
                  O mundo foi nivelado por uma ordem de uma criatura imaterial que se multiplica e se abriga dentro das vidas em qualquer lugar do planeta. Com certeza, uma nova ordem mundial há de surgir após essa tragédia. A miséria econômica vai ampliar as dores e desfazer as torres erguidas para indicar locais prósperos e turísticos.
                    Talvez nem haja como ver alturas, pois as criaturas sobreviventes estarão encurvadas sob o peso de suas dores e desalentos. As sobras do que restar desse vendaval serão o novo mundo quando o novo corona envelhecer. E aí, talvez se consiga escrever uma crônica mais alentadora e alguém ainda disponha de forças para ler.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

A Crônica da Segunda Feira







              ESSES DIAS
                                                                                               

                                                                                                       

              Francisco Galindo

















Temos mesmo nossa convic-19. Mirradinho de certezas que a persuasão dos outros grudou na gente e foi tudo: convicção só até ano passado. Porque depois o ano começou o fim. Até dia desses a gente se lambuzava de blablablá nos htps://lavemcoisa e era feliz e abarrotado numa babel reflexa. Até que, duviros que alguém imaginasse, eis que travou nossa memória primária e com ela a boa intenção do que a gente programava.

Foi e deu em prisão domiciliar. Com a indicação de ventos, marés e faróis pensada e oferecida por gente que a gente jamais trouxera pra sala: cala a boca, menino, escuta o epidemiologista! Esses caras estavam onde, antes? O que comem, como se reproduzem? O epidemiologista não parecia um guarda-florestal, aquele que a gente até imaginava que existia em algum lugar de cerradas florestas e laboratórios em que o cloro fila e a planta faz plantão? Pois chegaram:  epidemiologistas e opinologistas pra dissecar os procedimentos adé e quando, a política turbilhante, a eco não mia, o começo do tubo e a saída da chaminé.  Nesses dias de cama e mesa e banho, solução é soluço vexaminoso que os sustos não descansam.

Estamos todos na sala entregues às reprises, agora que as estabilidades ficaram no passado e o futuro é uma abstração que resolveu faltar ao serviço. Hoje é um dia enguiçado, um domingo perenal. Passa, mas não avança, vagueia, emperra, aperreia sem aviar-se.  E ficamos na sala prestando muita atenção às divindades, os exiteers e suas saídas, os tonéis no fim das luzes. E os oráculos confundem, eles próprios esbarrando no adoecimento irrestrito e extraordinário. Cá pra nós: consultaram esses espaçonautas que voltaram a pouco e viram tudo de cima?

O que a gente aprende nesses dias, além dos ofícios detergentes repetitivos que em tempos comuns teriam suspeição de compulsivos? Pode ser que o “novo normal” inclua esses banhos para purificar e remir nossa destrambelhada relação com a natureza e com a natureza de nossos instintos e comportamentos? Nesses dias talvez a gente se dê conta de que a condição daquilo que subsiste a outro poderia, em desvio de sorte e inépcia obstinada, significar que a vida pode de novo viver sem nós. Vírus e bactérias e fungos estavam aqui quando sequer estávamos mexendo no acaso germinal.  Esses dias serão coisa nenhuma ou alguma coisa.