segunda-feira, 8 de junho de 2020

A Crônica da Segunda Feira







              ESSES DIAS
                                                                                               

                                                                                                       

              Francisco Galindo

















Temos mesmo nossa convic-19. Mirradinho de certezas que a persuasão dos outros grudou na gente e foi tudo: convicção só até ano passado. Porque depois o ano começou o fim. Até dia desses a gente se lambuzava de blablablá nos htps://lavemcoisa e era feliz e abarrotado numa babel reflexa. Até que, duviros que alguém imaginasse, eis que travou nossa memória primária e com ela a boa intenção do que a gente programava.

Foi e deu em prisão domiciliar. Com a indicação de ventos, marés e faróis pensada e oferecida por gente que a gente jamais trouxera pra sala: cala a boca, menino, escuta o epidemiologista! Esses caras estavam onde, antes? O que comem, como se reproduzem? O epidemiologista não parecia um guarda-florestal, aquele que a gente até imaginava que existia em algum lugar de cerradas florestas e laboratórios em que o cloro fila e a planta faz plantão? Pois chegaram:  epidemiologistas e opinologistas pra dissecar os procedimentos adé e quando, a política turbilhante, a eco não mia, o começo do tubo e a saída da chaminé.  Nesses dias de cama e mesa e banho, solução é soluço vexaminoso que os sustos não descansam.

Estamos todos na sala entregues às reprises, agora que as estabilidades ficaram no passado e o futuro é uma abstração que resolveu faltar ao serviço. Hoje é um dia enguiçado, um domingo perenal. Passa, mas não avança, vagueia, emperra, aperreia sem aviar-se.  E ficamos na sala prestando muita atenção às divindades, os exiteers e suas saídas, os tonéis no fim das luzes. E os oráculos confundem, eles próprios esbarrando no adoecimento irrestrito e extraordinário. Cá pra nós: consultaram esses espaçonautas que voltaram a pouco e viram tudo de cima?

O que a gente aprende nesses dias, além dos ofícios detergentes repetitivos que em tempos comuns teriam suspeição de compulsivos? Pode ser que o “novo normal” inclua esses banhos para purificar e remir nossa destrambelhada relação com a natureza e com a natureza de nossos instintos e comportamentos? Nesses dias talvez a gente se dê conta de que a condição daquilo que subsiste a outro poderia, em desvio de sorte e inépcia obstinada, significar que a vida pode de novo viver sem nós. Vírus e bactérias e fungos estavam aqui quando sequer estávamos mexendo no acaso germinal.  Esses dias serão coisa nenhuma ou alguma coisa.


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