quarta-feira, 29 de abril de 2020

DIVINA LUZ








    Deus se revela pelo que buscamos

     por Janete Ferreira  
     









 Deus se revela pelo que buscamos.
Mais do que súplicas, devemos pedir sabedoria, que nos conduz diante de fardos difíceis, de situações obscuras que deixam dias em trevas.

Nosso tempo imediatista não é o tempo de Deus. Ele nos dá o que necessitamos, nem sempre o que pedimos.

Pelo fato de não compreendermos os desígnios de Deus, fechamos portas do destino, por medo do desconhecido, da experiência com o novo, com o diferente... e não nos damos conta de que nunca saberemos o resultado se não tentarmos, se não nos colocarmos à prova diante de nossas limitações.

O medo de “errar” nos enfraquece.
No final da busca temos o “SIM” ou “NÃO”, ou seja, o que deu “CERTO” ou o que deu “ERRADO.” As duas alternativas são válidas. A que deu certo, abre caminho ao sucesso; a que deu errado, fica a experiência, o aprendizado que nos torna um sábio, e não um fracassado. Fracassado é o pessimista que se acovarda, que não tenta por medo de “errar” e já aposta na derrota.

A reflexão é uma forma de oração que limpa nosso interior e joga fora o lixo diário que nos depositam. É nesse momento que nos damos a chance de perdoar e pedir perdão. O perdão é a luz que surge no fundo do túnel para que novas energias entrem e renovem o que não serve mais, o que carrega o ambiente em que vivemos e compartilhamos com outros.

Orar é preciso.
A oração é a linguagem, o momento de intimidade que nos liga a Deus; é o momento que permitimos que o Sr. Jesus entre em nossos corações para que milagres possam acontecer. Que esse momento seja íntegro e não mecânico, tipo da “boca pra fora”, sem nenhuma conexão espiritual.

“VIGIAI E ORAI” não apenas na igreja, mas em todos os momentos do cotidiano para que a saúde mental e espiritual seja restabelecidas e nos prepare para os desafios do dia a dia.

Seja luz. Outros precisam de seus reflexos.





terça-feira, 7 de abril de 2020

FIQUE EM CASA NA COMPANHIA DE UMA BOA LEITURA


Leitura indicada por:  Francisco Galindo.
Do livro
O Amor nos Tempos do Cólera
Gabriel Garcia Marques.

- Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto devido à quarentena que o porto nos impôs!
- O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente?
Não dormes o suficiente?
- Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
- E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?
- Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
- Pode ser, mas e se não foi inventada?
- Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.
- E tu te privas ainda mais de algo.
- Está de brincadeira, comigo?
- De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
- Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
- Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
- E o que foi que tiveste de te privar?
- Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.
O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.
Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.
- Como acabou, Capitão?
- Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
- Privaram vocês da primavera, então?
- Sim, naquele ano me privaram da primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.