segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O Povo Brasileiro e a Ditadura Militar

Por Edezilton Martins e J. Edimilson
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Os homens sofremos a falta de conhecimento necessário para entender e compreender a realidade e a nós mesmos, o que resulta numa vida fútil, momentânea, sem passado e sem futuro.
Nosso comportamento é movido pela mídia. Não suportamos conviver com o silêncio. O silêncio nos mantém em contato com nós mesmos; e dentro de nós não há nada. A televisão sabendo disso (os canais sensacionalistas) usa locutores e apresentadores que falam sem parar, em tom acelerado, para não darem tempo para os telespectadores respirarem. Porque respirar é mergulhar no vazio de si mesmo. Observe o programa do Faustão da rede Globo.
A mídia, a propaganda, os governos, as empresas utilizam este vazio existencial humano como modo de manipulação. Tudo em função do comércio, do lucro. Afinal o homem sem conteúdo necessitará consumir continuamente para se satisfazer. O homem sem conteúdo elegerá maus políticos, e ainda os transformará em seus heróis. Esta subjeção ao sistema midiático se inicia com o homem já desde a tenra idade. Os pais transmitem para os filhos o mesmo vazio de que são vítimas; o mesmo consumismo besta. No lugar de ensinarem as crianças a serem, ensinam-lhes a terem. Fazem com que as crianças entendam que felicidade é sinônimo de consumo e não de valores, entendimento e conteúdo.
Aí vem a reflexão! A quem isto interessa? Onde nossa sociedade espera chegar com este despreparo?... Até quando a sociedade e a natureza suportarão esta vida consumista, desregrada e agressiva? ...
O homem precisa aprender a pensar como Sócrates, Platão e Aristóteles. As escolas e os pais deveriam proporcionar esta condição. Aí teríamos alunos críticos, com conteúdo, mais comportados. Obedientes, todavia não submissos. Esta ausência de valores percebida na juventude é conseqüência do vazio existencial humano. Há também a ausência de percepção das oportunidades por parte da juventude.
Tratando-se de Brasil, façamos um corte na linha do tempo para enxergarmos onde o brasileiro se perdeu na banalidade: o golpe militar de 64 proporcionou a ruptura entre o brasileiro engajado com as mudanças, o sonho de construção de um mundo de oportunidades, e o brasileiro alienado, fútil. A ditadura que matou, torturou e exilou as cabeças livres e inteligentes de nosso pais dilacerou o que de melhor tínhamos: homens que pensavam, que transmitiam valores e sonhos.
A censura institucionaliza da ditadura militar passou a censurar na imprensa, na arte, na escola e na cultura tudo aquilo que pudesse fazer o homem pensar. Pensar passou a ser proibido. A ditadura e a censura criaram uma mídia fútil, manipuladora, a serviço do sistema e do comércio.
Somos uma sociedade perdida. O bandido é o novo herói. O sensacionalismo é o que emociona o telespectador. A música que nossos jovens ouvem é um barulhão sem conteúdo, fútil, sem conteúdo crítico como na musica de um Chico Buarque, sem intervalos entre as notas para respirar como numa bossa nova. Os pais e os professores não têm conteúdo e condições para reverter o status da banalidade, do vazio existencial.
O golpe de 64 deixou-nos órfãos da educação e da cultura. Por conseguinte de valores, de capacidade crítica. Levou-nos ao abismo de nós mesmos. Transformou-nos em patéticos objetos de consumo.
Como os homens as instituições também se alienaram. Também se tornaram produtos de venda fácil. Prostituiram-se.
A luta contra os efeitos da ditadura militar continua: como mudar este retrato? Como romper com esta ditadura midiática? Como nos tornamos indivíduos críticos? Como transformarmos o sistema educacional? Como recuperarmos as cabeças pensantes que a ditadura militar dilacerou? Como recuperarmos os valores? Como voltar a sonhar? Como voltarmos a ser idealistas e revolucionários?... Chico Buarque cantou que “mesmo calada a boca resta a cuca, silêncio na cidade não se escuta...”. Mesmo calada a boca resta a escrita, a história, a literatura. É proibido se calar e aquietar. Sobretudo, é preciso fazer diferente.
Até a pouco tempo se creditava a pobreza brasileira ao fato do país ser subdesenvolvido. Mas agora o Brasil é a nona economia do mundo. A nossa maior miséria não é a econômica, nossa maior miséria é a ausência de valores, de conteúdo, de pensamento crítico; a miséria do nosso sistema de educação. Somos miseráveis porque somos ignorantes de nós mesmos (vazios de valores, sonhos e ideais).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A VERDADEIRA IGREJA

“Procuro uma igreja onde o centro da vida litúrgica e espiritual seja Jesus e sua mensagem de libertação e esperança.

Procuro uma igreja que anuncie o Evangelho libertador de Jesus, e não as idéias dos seus pregadores oficiais(idéias sempre próximas dos interesses materiais e das ideologias).

Procuro uma igreja onde se possa orar conforme o ensinamento de Jesus; no silencio interior onde se escuta a voz de Deus; Uma igreja onde as celebrações litúrgicas se assemelhem a suaves canções a penetrar nos recônditos da alma.(A igreja do barulho dos trios elétricos e das palmas mecânicas é igreja espetáculo, jamais cenário de oração fecunda e lugar de encontro espiritual dos homens com o seu Deus).

Procuro uma igreja solidária e fraterna, onde todos possam se sentir parte de uma mesma família e a santidade seja atribuída apenas a Jesus, ele sim, caminho, verdade e vida.

Procuro uma igreja onde seus dirigentes não a gerenciem como uma empresa de artigos ou um supermercado da fé. Uma igreja solidário aos homens em seu trajeto histórico permeado de fracassos, erros e sólida, mas um caminhar também assinalado pelos momentos de soerguimento, refazimento da esperança e reafirmação da vida

Procuro uma igreja onde os pecadores sejam acolhidos como irmãos e participes da aventura comum da humanidade, e não sejam julgados segundo os critérios morais e o humor dos lideres religiosos e seus dedos em riste.


Procuro uma igreja que seja servidora dos homens, combatente ao lado dos pobres, animadora das utopias humanas por um mundo de fraternidade universal.

Oxalá exista uma semelhante igreja! Certamente sabe-se seu lugar: o coração dos homens de boa vontade.



Fragmentos de um manuscrito encontrado recentemente numa casa abandonada. Autor desconhecido. (Jornal de Arcoverde – Outubro / 2008)