domingo, 30 de março de 2008

SEMANA SANTA - DIAS DE REFLEXÃO

cenas da paixão de Cristo nova Jerusalém





Passado dias após semana santa, estou de volta escrevendo comentários, pincelando idéias, que é uma atividade inteligente, proporcionada pela tecnologia, por isso criamos o Blog para interagirmos com você leitor.

Dias de reflexão: Do cálice de Chico Buarque ao Monte Castelo de Renato Russo.

Então tomei um pequeno gole de vinho, pela manhã da sexta-feira santa, para entrarmos em comunhão com essa tradição que é milenar. A idéia de Cristo é de um homem que representou a divindade; a pureza do ser; a paz entre os homens; o amor e seus atributos entre todas as nações. Para não entrar em profecias, deixei tocar, por acaso, a música de Chico Buarque “CALICE”:

“Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice”.

Com mais um cálice de vinho, ficou tudo consumado: todos nós morremos um pouco “a cada cale-se” do nosso dia-a-dia. Principalmente quando calamo-nos diante da possibilidade de melhorar nosso próprio mundo; de vencermos nossos medos; na covardia da nossa submissão.
Na vida nos ensinaram a dizer mais sim que não. Em troca, recebemos mais não que sim. Vivemos horas de agonia, feito cristo no monte das oliveiras.
Mas para não perder o dia que estava só começando, mudei de música. E não mais por acaso, escolhi: “Monte Castelo de RENATO RUSSO”.
A música reúne literatura Portuguesa (Soneto 11 de Camões) e o texto bíblico (carta do apostolo Paulo aos Coríntios cap. 13). Aproveite comigo e faça uma importante leitura tanto cultural como espiritual, mas não esqueça o vinho.

Soneto 11 – Luis de Camões

“O amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”


Acima de tudo (APOSTOLO PAULO –CORINTIOS 13)
(o amor)


“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos,
se eu não tivesse o amor,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse o amor, eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse o meu corpo às chamas,
se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.
O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente,
não procura seu próprio interesse,
não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.Tudo desculpa, tudo crê
, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias desaparecerão,
as línguas cessarão,
a ciência também desaparecerá.
Pois o nosso conhecimento é limitado;
limitada é também a nossa profecia.
Mas, quando vier a perfeição,
desaparecerá o que é limitado.

Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.

Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho e de maneira confusa;
mas depois veremos face a face.
Agora o meu conhecimento é limitado, •mas depois conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.



Monte Castelo
Legião Urbana
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).


“Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso
Por vontade. É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade tão contrária a si
É o mesmo amor...
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...”


Comentário de Edezilton Martins, colaborador deste blog:


Estou em estado de epifania: todas as manhãs nascemos; nasci super-homem nesta manhã; nasci ao ler seu escrito.

“Morremos um pouco a cada cale-se do nosso dia-a-dia”

Vivemos em agonia com este cale-se na boca. Vivemos na covardia da submissão.
Por isto estamos vivos; há gente demais que não mais se indigna.

“Para entender seu cale-se (cálice do Chico Buarque) é preciso ter bebido do vinho amargo da repressão (ditadura), ou ter a sensibilidade de se indignar com a ditadura que ainda existe e nos impõe o silêncio: “Mesmo calado a boca resta o peito, silêncio nas cidades não se escuta”.

Pedir para Cristo ser a redenção da nossa covardia seria ser ainda mais covarde. A covardia é nossa e com ela devemos conviver. Não gosto da representação de que Cristo redime o homem do pecado. O pecado, caso existisse, seria do homem, dele mesmo.

Precisamos de autenticidade e coragem.

30/03/2008, manhã de domingo.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Um Grande Homem: Naná de Odilon

Por Edezilton Martins
.
A sociedade de Tupanatinga perde um grande homem; um sonhador (José Edinaldo Cavalcante). Tupanatinga está órfã. José Edinaldo (Naná de Odilon) faleceu em acidente de trânsito, nesta semana.
A sociedade de hoje é carente de homens que pensam no outro; que tem postura na sociedade, na família, no ciclo de amigos, etc. Naná destoava desta sociedade egoísta.
Aos 46 anos, sonhava com uma sociedade melhor; com uma juventude vencedora. Um maçom fervoroso; um crente em Deus; um empreendedor.
Queríamos ser mágicos, e tirarmos Naná de um fundo de cartola, para a sua família, para seus amigos, para a maçonaria.
Naná é uma daquelas pessoas que ao se irem, continuam vivas na memória dos amigos: um sonhador não morre.
Temos a sensação sempre de que não fazemos tudo que podemos. Teotônio Vilela, no seu último ano de vida, fazendo um balanço da sua trajetória, disse que sua luta pela liberdade, justiça e democracia no âmbito das idéias não surtiram o efeito desejado; que queria ter 20 anos e ser o maior revolucionário da luta armada na América do Sul, e mudar o mundo. Temos o mesmo sentimento de Teotônio Vilela ao assistirmos esta ida de Naná: queríamos ter com Naná 20 anos, para mudar o mundo. Para aos 40/50 anos vivermos numa sociedade mais justa, mais democrática, não corrupta; com liberdade, justiça e decência.
Não podemos errar como pai, como família e amigo. Nisto Naná foi um exemplo maior. Sempre aspirando ao melhor para sua família e amigos. Os amigos e irmãos maçons de Naná também estão órfãos.
São muitos os valores que a sociedade moderna perdeu, mas que continuavam vivos em Naná.
“Adeus Naná! Seus ideais, seus sonhos, seus valores continuam conosco.”



Nana, uma Coluna de Sustentação da Maçonaria


A Loja Maçônica é uma herança importantíssima, deixada por dois maçons, bancários, quando estiveram em Tupanatinga, na década de oitenta, cumprindo suas missões de carreira frente ao Banco do Brasil. Um paulista, Cláudio José Soares, e um paranaense, Olavo Oliveira. E, foi de um ciclo de amizade, respeitosa, que os mesmos tiveram com o Jovem José Edinaldo(Nana) que a idéia fora de fato concretizada. Convidaram outros amigos, fundaram então, a Loja Maçônica Acácia do Agreste, localizada à rua santos Dumont, 93.
Ao longo dos anos, o irmão Jose Edinaldo, foi o único dos fundadores que se manteve coeso e fez com que a Loja Maçônica em Tupanatinga nunca fechasse as portas. Ao contrario de algumas cidades vizinhas que conviveram com interrupções freqüentes, prejudicando seus trabalhos; voltando ao funcionamento períodos depois.
A manutenção da Maçonaria em Tupanatinga é um exemplo de persistência e visão de um homem que não se acovardou, nem se rendeu ao comodismo.
Nana foi, sem dívida, uma coluna de sustentação desse sonho maçônico, milenar na historia da humanidade. E importante para os homens desta Cidade interiorana, carente de auto-estima, liberdade e fraternadidade.
Este Cidadão queria muito mais: vendo que a sociedade não cobrava ou nada fazia pelos jovens; que a educação do nosso país pouco lhes oferecia para o crescimento humano e intelectual; convocou os maçons e instalou o capítulo da Ordem Demolay, beneficiando dezenas de jovens, filhos ou não de maçom.
Uma das suas mais novas cartadas, seria tornar a maçonaria aqui do sertão, liderada pela Loja Barão do Rio Branco, da cidade de Arcoverde, uma corrente única de forças,para tornar a maçonaria de Pernambuco mais interiorana, próxima e sensível aos anseios inovadores dos irmãos sertanejos.
A maçonaria de Tupanatinga continuará coesa, e lembrará de Nana, como também de outros fundadores (irmão Mariano e irmão Izaías de Carvalho), que vivos, enalteceram a Maçonaria.


Comentarios de Amigos

Anônimo disse...
Há Homens que trabalham um dia, e são bons.Há homens que trabalham muitos dias e são muito bons.Há homens que trabalham anos e são melhores.Porém, há homens que trabalham por toda a vida, esses sim são os imprescindíveis...Assim eu vejo o grande homem que perdemos tragicamente, NANÁ FOI IMPRESCIDÍVEL, e nesta surpresa que acompanhada de muito dor, mas que com o conforto consagrado pelo Grande Arquiteto do Universo, nasce em nossos corações o orgulho de termos vivido com um homem de pensamentos e ideologias consagradas a um ser livre e bons costumes e que carregava no sangue os ideais da Liberdade - Igualdade - Fraternidade, além de inúmeras virtudes...E nesta perca imensurável, que todos, inclusive a sociedade Tupanatinguense, realize os sonhos que não foram concretizados por este grande Pai, Irmão, Amigos, Maçom... Portanto, busque referência e forças nas suas inúmeras obras, conquistas e dedicações
.Almério Magalhães Cavalcanti.
14 de Março de 2008 03:51


dilson disse...
Verdadeiramente, Tupanatinga perdeu um grande filho. Se por um lado externarmos o quanto ficamos consternados com sua partida trágica e precoce, por outro, devemos externar também o quanto foi importante sua breve, mas marcante vida. Estamos de LUTO... ...a comunidade acadêmica perdeu também, trágicamente, João Francisco de Souza, professor titular da UFPE. Este magnífico intelectual que defendia a bandeira da "Educação Popular" e era um dos principais divulgadores das idéias freireanas foi assassinado quinta-feira, em Camaçari-Bahia. Estamos de LUTO...
Dilson Cavalcanti
29 de Março de 2008 16:19


Mariano Britto disse...
Edimilson,Você tem razão, Tupanatinga está mais triste com a partida de Naná, Uma figura cativa da nossa querida cidade.Mas, neste momento palavras perdem o sentido diante das lágrimas contidas na imensa saudade que nós sentimos e, se por um instante Deus nos presenteasse com mais um pouco de vida ao lado dessa pessoa tão querida, possivelmente não diríamos tudo o que pensamos, mas definitivamente pensaríamos em tudo o que dissemos.Lembrar do Amor e Respeito que Naná tinha pelos jovens de nossa sociedade, e concomitantemente pelo Capítulo Deusa Branca é enaltecedor para aqueles que fazem parte deste âmbito tão sagrado e edificante da nossa personalidade, que é a Maçonaria. Em especial a nossa querida Acácia do Agreste...Portanto, pensando no que dissemos, fizemos e sentimos, percebemos que os momentos de história que ele realizou aqui na terra foram mais grandiosos do que pequenos.Dizem que apenas a nossa língua possui uma palavra para expressar este tão intenso sentimento: SAUDADE. Penso que saudade é muito mais do que uma expressão, a palavra fica mais pobre diante da grandiosidade do que se sente. Saudade, essa dor tão doida é muito mais que falta, ausência, nostalgia ou qualquer outro substantivo. Saudade é perda, é a certeza da impossibilidade de resgatar algo já vivido, saudade é a dor algumas vezes quase insuportável, diante daquilo que já foi e que nunca mais poderá ser retomado. Saudades de verdade, apenas sentimos quando tomamos consciência, de que o tempo não existe, o movimento nos transporta pelos dias, anos e vamos passando pela vida como um filme diante de uma platéia estática. E como areia fina essa vida vai escoando-se entre os dedos, deixando pelo caminho o rastro das dores, alegrias, perdas e conquistas. Caminho esse que nunca mais voltaremos a trilhar.Saudade é muito mais do que morte, saudade é vida, é o agora que já deixou de ser presente, mas deixou na memória o registro da intensidade do instante vivido. É a lembrança gravada de forma perene dos pequenos e grandes fatos de nossa história.Portanto ao menos resta-nos o consolo de sabermos que, quanto maior for a saudade que sentirmos, com certeza, mais rica terá sido nossa vida vivida.Assim nos consola saber que: Quanto maior a saudade que sentimos por Naná, mais certos ficamos de quão rica foi a nossa amizade, quão ricos os momentos partilhados.Que ao lado do G.’. A.’. D.’. U.’., ele faça mais histórias maravilhosas e intensas como foi sua vida aqui na terra.
Do IR.’. Mariano Britto
1 de Abril de 2008 14:07

segunda-feira, 10 de março de 2008

O DIA INTERNACIONAL DA MULHER

O Dia Internacional da Mulher é uma homenagem a um trágico episódio que aconteceu nos Estados Unidos em 1857, onde muitas mulheres morreram carbonizadas de forma violenta, porque se rebelaram contra melhores condições de trabalho.
Diante dessa tragédia a ONU decretou o dia 8 de março como o dia internacional da mulher.
As mulheres nesse tempo já vinham realizando protestos como o direito ao voto reconhecido pela constituição em 1934, e melhores condições no mercado de trabalho.
Essas mulheres, não só de pura beleza, mas sim grandes lutadoras pelos seus direitos, como qualquer outra pessoa.
Até hoje as mulheres são sinônimos de grandes conquistas, pessoas corajosas. Muitos homens pensam que ser mulher é gerar o filho na barriga; ficar na cozinha preparando a comida; arrumar a casa. Mas hoje isso está mudando: a parcela feminina representa 41% da população economicamente ativa, com 30 milhões de mulheres no mercado de trabalho. No setor educacional, a mulher revela-se na presença de 57% em estudantes do 2º grau e ensino superior, sem falar nos outros setores (medicina, advocacia, no exército da marrinha e outros).
De acordo com a ONU, 25% das mulheres brasileiras são vítimas de violência no seu lar, em apenas 2% dos casos, o agressor é punido, e em cerca de 70% , esse agressor é o marido ou o companheiro. Isso é uma vergonha pra quem pratica essa violência contra mulher, pois muitos de seus companheiros acham que a mulher é um objeto de uso, mas não é. Outro caso importante é a prostituição que por muitas vezes ocorre pela falta de dinheiro.
Mas você mulher, reconheça seu valor; não deixe virar um objeto de uso pessoal dos homens, pois vocês mesmos estarão tirando o seu próprio valor.
A você MULHER, parabéns pela sua conquista e sua vitória, porque hoje é o seu dia!

Feliz Dia Internacional da Mulher!

Gabriela Ferro



domingo, 2 de março de 2008

O SAMBA DE COCO RAIZ DE TUPANATINGA E A INJUSTIÇA DO ACASO.


O surgimento do coco em nossa região deu-se ainda, quando na formação da nossa Cidade, quando esta era uma pequena vila pertencente ao município de Buíque. Onde as casas eram pequenos casebres feitas de madeira e barro. As famosas casas de taipa (primeiras décadas do ano de 1900). Segundo Mariquinha, 54 anos e sambista do grupo, Júlio de Ocrísio, foi o primeiro a formar o grupo. E tudo começou quando nas construções desses casebres, ele convidava a comunidade para tapar a casa e sambar um coco para aprontar o piso e a festa seria por conta do proprietário.
Os instrumentos utilizados era o ganzá e o pandeiro. O puxador do samba com o ganzá coordenava a roda, e o tocador com o pandeiro animava a festa. Os dançarinos começavam em círculos e cada qual com o seu par. O samba não tinha hora para acabar. Segundo Severino Carqueijo, mestre do ganzá, mesmo quando o sol apontava, puxava-se ainda um outro samba se despedindo do sol. E quando tudo estava claro, o dono da casa satisfeito, verificava ainda se o piso estava pronto.
O grupo manteve-se coeso durante muito tempo na sua primeira formação, coordenado pelo Mestre Júlio de Ocrísio, e os demais como Manoel de Ocrísio, seu Gesso, Zé Preto, João de Maçu, Vicente Preto, Vicente Carqueijo e Gerson França, e as mulheres: Josefa de Manoel Pedreiro e sua filha Luzinete de Manoel Pedreiro, Cícero de Brasi e Vicência Maria de Joana e muitos outros que a história não registrou.

Dos fundadores, Gerson França é o único que conta a história e segundo ele, o coco foi uma das maiores alegrias tanto para ele como para o grupo. Lamenta muito o descaso para com as culturas antigas, ocasionando bem assim, o enfraquecimento das raízes da nossa história, dos valores do nosso povo.
Conta seu Gerson que por conta da ignorância e da prepotência dos tempos modernos " a beleza das coisas perderam a a sua arte". Acredita outrossim, nessa juventude que pode fazer algo de novo pelo velho... (que tudo não seja fogo de palha"). Todavia ri de felicidade por saber que seu samba está sendo comentado, filmado e dançado pelo Brasil a fora.
Severino Carqueijo, Bia Dandô, Mariquinha,(Segunda geração do coco, filhos dos fundadores) e seu Gerson comentam com entusiasmo os momentos que tiveram apoio da prefeitura, no período de 1970 a 1976, na administração de Jaime de Melo Galvão: "Viajamos por quase todas as cidades vizinhas (Arcoverde, Pesqueira, Itaìba, Buique e Águas Belas). A convite, apresentamo-nos em Recife para uma plateia, inclusive grandes nomes da politica do nosso estado como o governador Miguel Arrás, bem assim, como o samba de coco de Arcoverde, e grupos de outras cidades, cujos os aplausos vitoriosos foram para o nosso samba de coco, fazendo estremecer o palco até parecer que tudo desabaria".
O grupo de Samba de Coco de nossa cidade, requer maior valorização, pois é um patrimônio cultural do município e da região. Recursos e Politicas culturais não faltaram nos últimos anos. .
Outros movimentos semelhantes foram contemplados em todo o estado. A nossa sociedade, hoje, tem consciência que a cultura, a educação e história são requisitos essenciais, não somente á cidadania, mas à vida. Esperamos que isto se reflita na política.
A educação que ensina, a cultura que forma e a historia que registra engrandecem o homem.


O SAMBA DE COCO E SUAS REPERCUSSÕES CULTURAIS EM TUPANATINGA

Trabalho de conclusão de curso, apresentado pelos alunos Clebio de Lima Paes e Márcio de Melo Cavalcanti do 8º período do Curso de Licenciatura Plena em História da Aesa/Cesa em cumprimento do estágio Curricular Supervisionado II sob a Disciplina Prática de História, ministrada pela Professora Maria do Carmo Amaral Pereira.




Os autores investigaram sobre um tema cujas repercussões hodiernas fazem se sentir com intensa representação sócia – cultural, sobretudo ser se tem em vista as novas perspectivas abertas pela cultura ou manifestações culturais locais ou regionais.
Essas produções culturais dão consistências a comunidades que por serem pequenas iriam certamente diluir sem na grande história ou quando muito servir como notas de rodapé.
O coco enquanto expressão cultural, transcontinental ganhou na região, que servil como campo de pesquisa elementos que possibilitaram uma unidade sócia – cultural forjando assim uma identidade que sem ser monolítica garante uma aproximação de valores ao mesmo tempo em que produz relações sócias – culturais extremamente produtivas cujo alcance resgata valores e sodilificam representações culturais e econômicas viáveis e regenerativas.

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JUSTIFICATIVA


A escolha deste tema, O SAMBA DE COCO E SUAS REPERCUSSÕES CULTURAIS EM TUPANATINGA, justificam-se pela necessidade de registrar a história local de uma comunidade, que faz parte do processo histórico do município de Tupanatinga.
A força da transmissão da cultura do Samba de coco está viva em uma comunidade humilde, que vive na periferia da cidade, em bairros pobres e nas favelas, e muitas vezes excluídas da sociedade, mas esta camada da sociedade, não perdeu, apesar das adversidades, a sua alegria e força de viver, transformando esta em uma cultura própria, que reflete suas condições de vida e um modo crítico de encarar a realidade, expressando-se, por exemplo, na música e na dança.
O estudo da historia local é fundamental na formação de uma identidade cultural, “a história local pode ter um papel decisivo na construção de memórias (...). É mais fácil a identificação, que ajuda a construir uma identidade, num espaço ou em grupos mais limitados, do que em situações espaciais ou sociais mais latas que adquirem um caráter cada vez mais abstrato”, este trabalho de conclusão de curso, mostra uma parte da cultura local, pois, sua importância, se revela na transmissão do conhecimento cultural tão presente, e ao mesmo tempo tão distante.
A principal fonte deste trabalho é a historia oral, tendo sempre em foco, a procura de novos conhecimentos, evitando segundo Samuel ”tendência administrativa dos documentos”, registrando não os atos dos governantes, mas sim, uma expressão cultural, no cotidiano de uma comunidade excluída.
O registro destes relatos tem como ponto fundamental, segundo Samuel “o relato vivo do passado deve ser tratado com respeito, mas também com crítica; como o morto”, .

Tupanatinga e o coco

As danças como socialização: As danças têm um caráter importante na vida dos negros, como em geral de todos os povos de civilização atrasada. É através da dança que tribos ou grupos de indivíduos se juntam em espíritos de coletividade e solidariedade para um objetivo, isto é, o sacrifício de sua individualidade para a comunhão de uma idéia. É através da dança que podem expressar seus sentimentos de solidariedade em reuniões sociais.
O caráter religioso na dança: Os negros na roda de coco, bem como em outras danças afro-brasileiras mostram a sua religiosidade na música, onde são encontrados em sua letra elementos de caráter religioso, podendo perceber a forte influência da igreja católica em sua cultura.
O coco chegou ao povoado de santa clara: O coco é filho da cultura negra. Para Gilberto Freyre o coco surgiu nos terreiros da casa grande “Danças européias na casa grande. Samba africano no terreiro”, em quanto na casa grande comemorava-se as festas de casamento, batismo etc., os negros e mestiços sambavam no terreiro compartilhando da alegria da casa grande.
O coco nasceu em Alagoas, no quilombo dos palmares, fazendo parte do nosso patrimônio histórico colonial. Depois se estendeu por todo o nordeste. No inicio do séc. XX, no povoado de Santa Clara, o coco foi introduzido pela família dos Ocrízio, sendo seu “chefe”, o Senhor Júlio de Ocrízio, grande poeta do coco. Neste período eles dançavam como forma de sociabilidade e confraternização, segundo dona Mariquinha ”juntava todo mundo e ia sambar para apilar o chão da casa”. O coco é uma dança envolvente e contagiante pelos passos firmes e versos, onde seus participantes começavam a dançar no início da noite até o amanhecer, sem perde o passo, pois o coqueiro não deixava a turma esmorecer.

O coco é uma parte da historia local, seus participantes sempre dançavam em festas dentro de sua comunidade, para comemorar um casamento, graças alcançadas etc. Mais excluídos da sociedade, sem reconhecimento de sua cultura. Embora o coco tivesse na década de 70, durante o governo Jaime de Melo Galvão, o início do seu reconhecimento, quando estes fizeram várias apresentações em cidades circunvizinhas e principalmente no Recife, onde fizeram um verdadeiro show de dança típica emocionando todos aqueles que tiveram a honra de estar presente. O coco depois deste período de brilho foi sendo esquecido, lembrado apenas de forma nostálgica, por seus participantes que temem que sua cultura venha a desaparecer, uma vez que muitos dos que participavam já faleceram levando consigo boa parte de sua cultura, pois esta é uma cultura oral.
Nas cidades em que o coco se apresentou, houve o encontro com outros tipos de culturas ou danças, mas foi em Arcoverde que houve um maior intercâmbio cultural, principalmente através do senhor Ivo do Coco, que chegou a participar de varias rodas de coco em Tupanatinga, tentando inclusive organizar o coco no município, mas suas intenções foram frustradas com a falta de interesse dos lideres da região.
A pesar do pouco interesse do governo municipal em resgatar este tipo de cultura, contrataram uma participante do samba de coco em Tupanatinga, a “dona Mariquinha”, grande bailarina do samba de coco, para ensinar as crianças nas escolas municipais, apesar do trabalho árduo ela tem a esperança de ver preservada sua cultura.
Em uma sociedade elitista o coco enfrenta uma barreira invisível, “o preconceito”, tanto econômico quanto racial, pois seus principais representantes são humildes, que tiram o seu sustento da lavoura e moram na periferia em habitações muitas vezes precárias. Uma vez que o coco é uma dança tipicamente negra e dançada por negros, a sua preservação depende em parte desta superação.
Os participantes do coco em Tupanatinga encontram-se cansados por sua idade avançada, doenças, além de condições de vida insalubres, mas apesar de tantas adversidades que enfrentaram na vida não perderam o sorriso, a dignidade e a esperança de ver sua cultura reconhecida e transmitida aos jovens.

Conclusão

Este trabalho é um registro da cultura locar de um povo excluído, que contribuiu na formação de uma cidade, através de sua força e cultura, tornaram-se parte intrínseca de Tupanatinga, embora esta participação seja negada no processo histórico da região.
Durante a realização deste trabalho, houve um processo de auto-conhecimento, pois entramos em contato com a história de Tupanatinga, onde possibilitou o conhecimento de uma cultura singular da história local. História de pessoas simples como, Dona Mariquinha, Seu Gerson, Severino Carquejo (coqueiro) etc. que se destacaram através de sua cultura.
Esta pesquisa mostrou a necessidade de um trabalho mais detalhado e profundo, onde sejam preenchidas suas lacunas, para que este grupo tenha o devido registro de sua cultura.
Através deste TCC, esperamos que a sociedade tupanatinguense bem como o Poder Público, desperte para a preservação da cultura local. Enquanto ainda existe!





Tupanatinga e o samba de coco

O coco como muitas outras danças têm um papel importante na vida de povos de civilizações atrasadas, pois é através da dança que grupos de indivíduos se juntam em confraternização, deixando de lado suas diferenças em troca de um objetivo “dançar”. O coco é uma cultura transcontinental de origem negra, que nasceu em Alagoas expandindo-se por todo o nordeste. Originalmente se dá em uma roda de dançadores e tocadores, sendo que sua forma musical é cantada, com acompanhamento de um ganzá ou pandeiro e da batida dos pés. A música começa com o tirador de coco (ou coqueiro), que puxa os versos, respondidos em seguida pelo coro. O coco foi introduzido em Tupanatinga no início do séc. XX, através da família dos Ocrízio, sendo seu “chefe”, o Senhor Júlio de Ocrízio, desenvolvendo-se sócio-culturalmente tornado-se parte da história popular da região, embora tenha tido um período de apogeu na década de 70, entrou em declínio em seguida. Seus participantes fazem parte de uma camada excluída da sociedade, muitos vivendo em condições insalubres, apesar das adversidades esperam ver preservada a sua cultura.


Clebio de Lima Paes
Márcio de Melo Cavalcanti
Graduandos de História do CESA-AESA