terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Que Jesus?


por Francisco Galindo

Na falta de assunto, serve natal? Ou natal é bom assunto? Ele é uma boa expectativa de prêmio no zilhão de cupons do sonho dourado. Aliás, se a gente seguir sua magia, onde paramos senão nas  garrafas personalizadas e home collection da mais gasosa coca- cola? Natal são os melhores produtos, com menos 10% e frete grátis, uma surpresa na Zattini, ursos aumentados na lata, uma bolsa térmica, um shopping de gente descolada. Natal é portfólio vistoso. É luz em Garanhuns ou túnel de corações vem aqui. É um bem chegado começo de temporada de férias. Época pagã de compra a prazo.

Já foi pretexto de celebração do nascimento do deus sol- natalis invicti Solis, lá num faz tempo de não ae saber quando. Até a ressignificação pela igreja católica, no século III, para pungir nos pagãos a fé em Cristo e uma sujeiçaozinha ao Império romano. Natal é coisa para varejistas. Natal foi para nossos amigos. Secretos. O registro de sua primeira celebração informa que foi na Turquia. O clima meio ou quase inteiro pagão, secularizado, que predomina hoje, vem de longe e justificou proibição do natal pela cristandade protestante.

Pobre festejo. Quando adolescente acompanhei- com certo fervor, juro- um animado período de visitas casa em casa que a igreja chamava de natal em família. Era um jeito bem intencionado de resgatar a mística da ocasião, para abrandar a inchada ansiedade pelos panetones e perus. Passado o tempo, também eu me rendi à árvore bem armada e às cervejas do verão que inventou de começar em dezembro. Jesus, mais que secularizado, ficou secundarizado e tem perdido visibilidade entre as crianças para um certo Noel, pançudo e ruivo. Jesus espera presentes. Noel dá presentes.

O natal é uma festa. Na teoria microeconômica ortodoxa consideram- no mesmo um...peso morto, com perdas calculáveis na diferença entre o que os doadores de presentes gastam e o preço que os ganhadores deixam de gastar com o presente que recebem. Natal é cifrudo. Vez em quando acontece de alguém ousar defender que no natal caberia um determinado Jesus, numa história cada ano mais excêntrica, de ter nascido num dezembro remoto e arredado, num cocho para bois e cavalos, sem teto e albergaria, de pais campesinos e reis magos e magros e luz de orientação nas estrelas. Uma história mais pra fake, de tão requintada conjectura. As beatas ajoelharam, não suas filhas e namorados que foram dançar funk nos clubes sem presépio, como quase contou Carlos de Itabira. Natal, tem ou não tem? Na tal dúvida, não ultrapasse.

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