domingo, 28 de março de 2010

Ciência e Tecnologia, Educação e Política: em busca da dignidade humana e da paz

No texto “Conexão Cultural, Busquemos a Cultura da Paz”, escrevi que nos últimos 100 anos os avanços em ciência e tecnologia foram bastante intensos, modificando e re-configurando a sociedade, derrubando fronteiras, globalizando o capital, mas também o conhecimento. Esse avanço científico e tecnológico permitiu vislumbrar e usufruir de diversas comodidades e confortos, como por exemplo, os meios de comunicação (TV, rádio, telefonia, internet), meios de produção (industrialização), os meios de transportes (terrestres, marítimos e aéreos), etc.
Os avanços em ciência e tecnologia e o desejo desenfreado de mais comodidade e conforto parecem gerar um ciclo vicioso no qual temos uma inversão que desfavorece a humanidade. Os homens cada vez mais estão a serviço das tecnologias, no entanto, deveríamos ter a tecnologia a serviço da humanidade. De fato, essa inversão é bem mais evidente quando, em meio a tanta tecnologia, temos o século XXI como o século da fome (conforme relatório da ONU), problemas com saneamento básico, educação, cultura, saúde, e, sobretudo, uma desvalorização da vida. Essa inversão é vergonhosa quando, com a justificativa de continuar com o ciclo de buscar mais avanços em ciência e tecnologia, os homens destroem o meio ambiente, o clima, criam arsenais nucleares, químicos e biológicos, tornando a extinção da vida uma possibilidade real passível de ser executada a um aperto de botão.
Não quero ser interpretado como alguém contra tais avanços, pelo contrário. Acredito que para a resolução dos problemas citados, precisaremos, de certo, ainda de muitos mais avanços em ciência e tecnologia. Contudo, precisamos de uma “nova” ciência e tecnologia a serviço da “vida” e contra a extinção; a serviço da humanidade e contra a miséria, a fome, a discriminação, as doenças; a serviço do planeta e contra a destruição da natureza; a serviço da paz e contra a guerra.
Precisamos de um novo estereótipo de cidadão. Para isso, muita coisa tem que ser repensada, dentre as quais a Educação e a Política. Na década de 60, do século XX, em meio a um contexto extremista e violento, uma voz clamava por paz. Martin Luther King dizia “hoje não temos mais a opção entre violência e não violência. É somente a escolha entre não-violência ou não existência”. Semelhantemente, ouso dizer que hoje também não temos mais opção em educar para as ciências ao serviço dos avanços tecnológicos pensando apenas nos confortos e comodidades advindos. Ou educamos “pela” ciência, em vez de “para a” ciência, ou estamos fadados à autodestruição.
Educar pela ciência é colocar a colocá-la como meio para a “formação do cidadão” e, em conseqüência, para a transformação dessa realidade caótica e autodestrutiva. A política, por sua vez, também tem sua parcela de contribuição na realidade atual e, também, na modificação desse modelo social vigente. Parece que aqui também temos outra inversão. Ao invés das idéias e ideais servirem à política e a política servir ao povo, temos uma política manipulada por idéias e ideais inescrupulosos e corruptos no qual o povo, que deveria ser beneficiado, torna-se maltratado, enganado, desrespeitado e marginalizado.
Minha utopia de educador e cidadão é que a Educação e a Política, de maneira coerente e compromissada, permitam uma sociedade na qual a ciência e tecnologia estejam a serviço da vida; da sobrevivência; do bem; da paz; da luta contra a fome, as doenças, a miséria e a desigualdade. Uma sociedade na qual cada cidadão tenha consciência da importância de participar não apenas usufruindo das comodidades dos avanços científicos e tecnológicos, mas, sobretudo, contribuindo com a criação dessa sociedade que busca a plenitude envolvendo a dignidade humana e o cuidado com nosso planeta.



Prof. Dilson Cavalcanti

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