Prof. José Luiz Cavalcante
Há 06 (seis) anos atrás os alunos do 5º ano do ensino fundamental (antiga 4ª série) de uma escola da rede municipal de nossa cidade, Escola Clarindo de Albuquerque Cavalcante, sob inspiração da diretora da escola e sob orientação minha decidiram realizar uma investigação sobre a história do povoado Mata verde. Logo no início, o que parecia um simples projeto escolar, tomou corpo e foi tornando-se um trabalho de grandes proporções para aqueles pequenos escritores.
A aventura de conhecer seu passado e suas origens promoveu em toda comunidade escolar diversas aprendizagens. O conteúdo escolar foi se tornando objeto de reflexões coletivas agregando no currículo escolar discussões sobre atuação da administração pública, distribuição de renda, condições de vida das pessoas entre outros temas.
Recordo-me bem, numa aula quando discutiamos a “descoberta” para os alunos da antiga feira que ali havia e por essa demanda a construção do açougue público, hoje em ruínas, perguntei aos alunos quais as causas para que o açougue, um prédio público, ficasse naquele estado, a primeira resposta de um aluno foi ingênuamente “as causas naturais, como as chuvas”, o resto da sala acatou o argumento, a partir disso provoquei os alunos com analogias sobre seus pais no cuidado e zelo de suas casas, depois de algum tempo o mesmo aluno interrompeu e disse “professor agora entendi: o poder público precisava cuidar do açougue” outra aluna completou “é, mas também nós da comunidade deveriamos fazer nossa parte”. As falas desses alunos ecoaram por muitos dias naquela comunidade e acompanham minha prática docente desde então.
O trecho do episódio citado acima, está registrado através do livro (não publicado, cópias foram doadas as bibliotecas da nossa cidade) escrito por mim e pelos alunos daquela 4ª série. Nosso trabalho revelou mais de duzentos anos de história daquela comunidade. Repito essa aventura de investigação legou-nos inúmeras aprendizagens.
Resolvi contar essa “história” para começar essa conversa com o leitor, meus conterrâneos, amigos e amigas, companheiros de ofício e de luta, para ilustrar o poder da história de um povo. Conhecer nossa própria história é tomar consciência do nosso papel na construção e desenvolvimento da nossa comunidade.
Cada um de nós homens e mulheres, seres históricos e sociais, somos responsáveis pela continuidade de nossas tradições, pela valorização de nossa cultura e pela preservação de nossa história. Porém, sem tornarmos um referencial como ponto de partida, não poderemos compreender os avanços alcançados.
Nossa história, nossas memórias, podem e devem ser ponto de partida, para que nos situemos no espaço e tempo, para que possamos constituir e fortalecer a identidade de nosso povo.
Uma das grandes inquietações que tenho, quando me encontro saudoso longe das ladeiras de minha terra é a ausência de um mecanismo sistematizado de preservação da nossa história, não só da história atual, que estamos tecendo, mas principalmente da história da gênese de nosso povo, dos desbravadores que aqui construiram seus lares e fizeram desse torrão sua morada, seu lugar.
É preciso com urgência nos lembrarmos do nosso passado, registrarmos nossas memórias, para não nos esquecermos de quem somos. Urge essa necessidade já que muito do nosso registro histórico está na memória dos próprios protagonistas.
Iniciativas simples podem ser tomadas como a compra de uma casa para instalação de um museu, financiamento de pesquisa historiografica para um registro sistemático de nossa história, parceria com escolas e instiuições interessadas em nosso município, tornando esse trabalho de resgate uma ambição de nosso povo.
Recordo-me que logo após o trabalho feito na Mata verde surgiu motivação para que a pesquisa fosse estendida para todo o município, infelizmente a idéia não vingou, especialmente por que não tinhamos nos dado conta que essa tarefa carece de sistematização, recursos especificamente destinados e principalmente de parcerias. É tarefa e necessidade não só de um governo, mas de toda comunidade.
É com justiça que reconheço e parabenizo algumas iniciativas de guerreiros incassáveis na preservação de nossa história, de nossa cultura e da nossa identidade. O presente instrumento de comunicação, o jornal conexão cultural, é prova viva do que estou dizendo. Além de contar nossa história recente, ou seja, hoje nós já temos um registro de nossa história, tem um trabalho de resgate e divulgação de nosso potencial cultural.
Despeço-me dos leitores reafirmando o convite à profunda reflexão sobre assunto, ao mesmo tempo, que me coloco a disposição para colaborar com essa empreitada. Aos companheiros de ofício lembro da importância de abraçar esse registro de nossa história, o jornal conexão cultural, levando-o para as suas salas de aula, lugar de preservação e formação de nossa identidade.
Fotos memorias
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