Passado dias após semana santa, estou de volta escrevendo comentários, pincelando idéias, que é uma atividade inteligente, proporcionada pela tecnologia, por isso criamos o Blog para interagirmos com você leitor.
Dias de reflexão: Do cálice de Chico Buarque ao Monte Castelo de Renato Russo.
Então tomei um pequeno gole de vinho, pela manhã da sexta-feira santa, para entrarmos em comunhão com essa tradição que é milenar. A idéia de Cristo é de um homem que representou a divindade; a pureza do ser; a paz entre os homens; o amor e seus atributos entre todas as nações. Para não entrar em profecias, deixei tocar, por acaso, a música de Chico Buarque “CALICE”:
“Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice”.
Com mais um cálice de vinho, ficou tudo consumado: todos nós morremos um pouco “a cada cale-se” do nosso dia-a-dia. Principalmente quando calamo-nos diante da possibilidade de melhorar nosso próprio mundo; de vencermos nossos medos; na covardia da nossa submissão.
Na vida nos ensinaram a dizer mais sim que não. Em troca, recebemos mais não que sim. Vivemos horas de agonia, feito cristo no monte das oliveiras.
Mas para não perder o dia que estava só começando, mudei de música. E não mais por acaso, escolhi: “Monte Castelo de RENATO RUSSO”.
A música reúne literatura Portuguesa (Soneto 11 de Camões) e o texto bíblico (carta do apostolo Paulo aos Coríntios cap. 13). Aproveite comigo e faça uma importante leitura tanto cultural como espiritual, mas não esqueça o vinho.
Soneto 11 – Luis de Camões
“O amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Acima de tudo (APOSTOLO PAULO –CORINTIOS 13)
(o amor)
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos,
se eu não tivesse o amor,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse o amor, eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse o meu corpo às chamas,
se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.
O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente,
não procura seu próprio interesse,
não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.Tudo desculpa, tudo crê
, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias desaparecerão,
as línguas cessarão,
a ciência também desaparecerá.
Pois o nosso conhecimento é limitado;
limitada é também a nossa profecia.
Mas, quando vier a perfeição,
desaparecerá o que é limitado.
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho e de maneira confusa;
mas depois veremos face a face.
Agora o meu conhecimento é limitado, •mas depois conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.
Monte Castelo
Legião Urbana
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).
“Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso
Por vontade. É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade tão contrária a si
É o mesmo amor...
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...”
Comentário de Edezilton Martins, colaborador deste blog:
Estou em estado de epifania: todas as manhãs nascemos; nasci super-homem nesta manhã; nasci ao ler seu escrito.
“Morremos um pouco a cada cale-se do nosso dia-a-dia”
Vivemos em agonia com este cale-se na boca. Vivemos na covardia da submissão.
Por isto estamos vivos; há gente demais que não mais se indigna.
“Para entender seu cale-se (cálice do Chico Buarque) é preciso ter bebido do vinho amargo da repressão (ditadura), ou ter a sensibilidade de se indignar com a ditadura que ainda existe e nos impõe o silêncio: “Mesmo calado a boca resta o peito, silêncio nas cidades não se escuta”.
Pedir para Cristo ser a redenção da nossa covardia seria ser ainda mais covarde. A covardia é nossa e com ela devemos conviver. Não gosto da representação de que Cristo redime o homem do pecado. O pecado, caso existisse, seria do homem, dele mesmo.
Precisamos de autenticidade e coragem.
30/03/2008, manhã de domingo.
Dias de reflexão: Do cálice de Chico Buarque ao Monte Castelo de Renato Russo.
Então tomei um pequeno gole de vinho, pela manhã da sexta-feira santa, para entrarmos em comunhão com essa tradição que é milenar. A idéia de Cristo é de um homem que representou a divindade; a pureza do ser; a paz entre os homens; o amor e seus atributos entre todas as nações. Para não entrar em profecias, deixei tocar, por acaso, a música de Chico Buarque “CALICE”:
“Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai, afasta de mim esse cálice”.
Com mais um cálice de vinho, ficou tudo consumado: todos nós morremos um pouco “a cada cale-se” do nosso dia-a-dia. Principalmente quando calamo-nos diante da possibilidade de melhorar nosso próprio mundo; de vencermos nossos medos; na covardia da nossa submissão.
Na vida nos ensinaram a dizer mais sim que não. Em troca, recebemos mais não que sim. Vivemos horas de agonia, feito cristo no monte das oliveiras.
Mas para não perder o dia que estava só começando, mudei de música. E não mais por acaso, escolhi: “Monte Castelo de RENATO RUSSO”.
A música reúne literatura Portuguesa (Soneto 11 de Camões) e o texto bíblico (carta do apostolo Paulo aos Coríntios cap. 13). Aproveite comigo e faça uma importante leitura tanto cultural como espiritual, mas não esqueça o vinho.
Soneto 11 – Luis de Camões
“O amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Acima de tudo (APOSTOLO PAULO –CORINTIOS 13)
(o amor)
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos,
se eu não tivesse o amor,
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência; ainda que eu tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse o amor, eu não seria nada.
Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse o meu corpo às chamas,
se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.
O amor é paciente,
o amor é prestativo;
não é invejoso, não se ostenta,
não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente,
não procura seu próprio interesse,
não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade.Tudo desculpa, tudo crê
, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais passará.
As profecias desaparecerão,
as línguas cessarão,
a ciência também desaparecerá.
Pois o nosso conhecimento é limitado;
limitada é também a nossa profecia.
Mas, quando vier a perfeição,
desaparecerá o que é limitado.
Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança.
Agora vemos como em espelho e de maneira confusa;
mas depois veremos face a face.
Agora o meu conhecimento é limitado, •mas depois conhecerei como sou conhecido.
Agora, portanto, permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor”.
Monte Castelo
Legião Urbana
Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).
“Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece...
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...
Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder...
É um estar-se preso
Por vontade. É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade tão contrária a si
É o mesmo amor...
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade...
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...”
Comentário de Edezilton Martins, colaborador deste blog:
Estou em estado de epifania: todas as manhãs nascemos; nasci super-homem nesta manhã; nasci ao ler seu escrito.
“Morremos um pouco a cada cale-se do nosso dia-a-dia”
Vivemos em agonia com este cale-se na boca. Vivemos na covardia da submissão.
Por isto estamos vivos; há gente demais que não mais se indigna.
“Para entender seu cale-se (cálice do Chico Buarque) é preciso ter bebido do vinho amargo da repressão (ditadura), ou ter a sensibilidade de se indignar com a ditadura que ainda existe e nos impõe o silêncio: “Mesmo calado a boca resta o peito, silêncio nas cidades não se escuta”.
Pedir para Cristo ser a redenção da nossa covardia seria ser ainda mais covarde. A covardia é nossa e com ela devemos conviver. Não gosto da representação de que Cristo redime o homem do pecado. O pecado, caso existisse, seria do homem, dele mesmo.
Precisamos de autenticidade e coragem.
30/03/2008, manhã de domingo.
Um comentário:
Edmilson, parabéns pelo texto e pela transcrição das musicas e do poema.
É isso, Zé. Um Cristo morre em nós todo dia, cada vez que a hipocrisia , o “politicamente correto” falam mais alto, sufocando nossa própria identidade. É necessário que, com o Cristo, a nossa essência também ressussite, e não mais se perca.
Um abraço, colega, e parabéns pelo blog, muito bom!
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