domingo, 19 de outubro de 2008

Poesia com Micheliny Verunschk




Vamos conhecer a escritora poetisa, Micheliny Verunschk, que residiu em nossa Cidade (Tupanatinga), na década de 80 a 90.
Filha do Sr. Aluízio, sargento do município, e da Sra. Mércia, professora da Escola José Emílio de Melo. Nessa época, já participava de concurso de poesia e de um pequeno grupo de teatro existente na escola. Antes do retorno da família à cidade de Arcoverde.
Escritora de Arcoverde, Sertão de Pernambuco, formada em História. Consagrada como uma jovem escritora poetisa: tem livros editados e expostos em importantes livrarias do país (livraria cultura), e foi comentada nas colunas de um dos importantes Jornais de São Paulo (Folha de São Paulo).
Tem textos publicados em sites na internet, como o Jornal de Poesia e Le Mangue, nas revistas Cult e Poesia Sempre.
Despertou a atenção do poeta e professor de literatura, Frederico Barbosa. Foi a única voz da nova geração pernambucana a estar na antologia de 46 poetas que Frederico Barbosa organizou com Cláudio Daniel.

Entrevista para o Jornal Diário de Pernambuco:

DP - Cecília Meirelles, em poema famoso, diz que canta porque o instante existe. E você, por que escreve?
Verunschk - Escrevo porque é o melhor de tudo que posso fazer. Literalmente, eu não viveria sem escrever.
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DP - Para que poesia em tempo de crise?
Verunschk - A poesia oferece respostas para muitas angústias do ser humano, engendrando outros questionamentos. Algo paradoxal, próximo da filosofia, mas acredito que muito maior que ela.
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DP - Nos últimos anos, tem aparecido muitas antologias de poesia. Agora você é incluída numa delas, e justo numa que glorifica a chamada poesia de invenção. Que tipo de invenção faz a sua poesia?
Verunschk - Acredito que a imagem é a grande força da minha poesia. Gosto de subverter as imagens, dar-lhes outros significados. É algo como criar o seu próprio dicionário.
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DP - Fala-se muito em poesia feminina. Acredita no gênero?
Verunschk - Não, embora ache que há muito poeta por aí que faz gênero e insista em lugares comuns para enquadrar a poesia. É muito chato esse negócio de poesia feminina, poesia engajada, etc. A poesia é muito maior que esses rótulos.
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DP - Quais os poetas de que mais gosta? Que influência eles exercem sobre você?
Verunschk - Gosto de João Cabral, Carlos Drummond, Ezra Pound, Geraldino Brasil, Orides Fontella, citando aqui só os mortos. Acho que a maior influência que exercem sobre mim é a respeito do rigor na criação. Como leitora sinto na pele e na alma a seriedade e honestidade na feitura de cada poema desses mestres. Logo eu que lido com a poesia não posso exigir de mim menos rigor. O resultado é que nem sempre chego aos pés do que quero ou exijo de mim.
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DP - Acredita na inspiração?
Verunschk - Acredito na elaboração. Um poema pode estar se gestando há anos, e um dia ele chega até o papel como se fosse de uma tacada só. Aí muitos dirão que é inspiração, mas, que nada, ele já estava sendo feito há muito tempo.
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DP - João Cabral matou o lirismo, os concretistas sepultaram o verso. A sua poesia continua a cultivar os dois. De que espécie de lirismo é o seu, o da libertação a que se referiu Manuel Bandeira?
Verunschk - Talvez seja mesmo o da libertação. Quero a liberdade de escrever o que quiser na forma que quiser. Toda receita exige a criatividade do chef, seu tempero.
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DP - Poesia é jogo de paciência ou de palavra cruzada?
Verunschk - Poesia é cubo mágico. Lembra daqueles cubos que você fica armando até que as cores todas se encontrem em todas as faces?... Pois é, poesia é isso para mim, e o grande barato é que nem sempre dá pra montar e vencer o cubo. Acho que há um certo misticismo nisso, que alguns podem chamar de engenharia.
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DP - Que influência exerce no seu trabalho de poesia a música popular brasileira? E o rap e o rock?
Verunschk - Acho que antigamente a MPB exercia uma influência mínima na minha poesia, hoje não exerce influência nenhuma. Em geral, é muito ruim o que se produz em MPB no Brasil. É interessante você me perguntar também sobre rap e rock, pois só agora é que tenho me aproximado desses ritmos, conheci Nirvana com um atraso de dez anos. Estou gostando muito dessa incursão, mas não saberia dizer se exercem ou exercerão alguma influência.


"Escrever é tudo que posso fazer".

Do livro "Geografia Íntima do Deserto"


A PRESENÇA DOLOROSA DO DESERTO

Teu nome é meu deserto e posso
senti-lo incrustado no meu próprio território
como uma pérola ou um gesto no vazio
como o amargo azul e tudo quanto há de ilusório.

Teu nome é meu deserto, e ele é tão vasto
seus dentes tão agudos, seus sois raivosos
e suas letras (setas de ouro e pratanos meus lábios)
são o meu terço de mistérios dolorosos.


DA ROTINA

Varrer o dia de ontém
que ainda resta pela sala,
o dia que persiste,
quase invisível,
pelo chão, nos objetos,
sobre os móveis da sala.

Varrer amanhã, o pó de hoje.
Varrer.
Varrer hoje.

(E domingo quebrar nos dentes
o copo e sua água de vidro).


O CORPO AMOROSO DO DESERTO

Teu corpo branco e morno
(que eu deveria dizer sereno)
é para mim suave e doloroso
como as areias cortantes dos desertos.

Que importa que ignores minha sede
se tua miragem é água cristalina.

E a miragem eu firo com mil línguas
e cada uma é um pássaro.


Da redação do DP:


A poetisa, Micheliny Verunschk, 32 anos, é a única mulher, a única estreante, a única nordestina e a mais jovem entre os dez finalistas que concorrem ao Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira.
A lista foi divulgada no último dia 10/outubro. O vencedores serão conhecidos no dia 9 de novembro, mas a indicação já revela a singularidade da escritora.

Nascida em Recife, Micheliny tem raízes em Arcoverde, primeira cidade do sertão pernambucano. Ali, onde a seca assola e falta água, cresceu a poetisa, em meio à fertilidade de manifestações culturais: samba-de-coco, coco raízes e reisado. Entretanto não é daí que brota sua poesia.

"Geografia Íntima do Deserto" (Landy, 2003), que concorre ao prêmio, ao contrário do que pode sugerir o título e a associação deste com a biografia da autora, nada tem desse imaginário nordestino. É "poesia do não-lugar". "Procuro não deixá-la datada", diz.

Contra os rótulos, para ela, "poesia não tem gênero, local, etnia ou temática. O poeta tem de fingir que não é ele sendo ele mesmo. "Sou uma farsante", se diverte com a idéia. "Não é porque sou mulher que minha poesia tem de ser erótica ou cor-de-rosa."

Micheliny cria a partir de imagens. "Tento transformar imagens em palavras. Travo uma luta com as palavras. Elas fogem. Preciso laçá-las. Escolho ritmos e metáforas para traduzi-las. O poema me acompanha por alguns dias de gestação. É muito triste quando não consigo fazê-lo nascer."

Segundo ela, esse processo nada tem a ver com inspiração, mas com elaboração. "Para construir um edifício de palavras, a base precisa ser firme. Caso contrário, o prédio fica torto e não é a Torre de Pisa", compara.

"O rei está nu e no jornal", diz Micheliny, se referindo ao interesse que seu trabalho vem despertando. "Temo ser a bola da vez. O que quero é fazer bons poemas. Não quero me tornar uma escritora profissional. Enquanto achar que há um poema bom, continuo a publicar. Se não, não publico."

Micheliny se considera tímida, mas vê como especial a possibilidade de ser instrumento de destaque para a poesia. Ela é o patinho feio da literatura. "Quando a poesia aparece é importante aproveitar o momento. Dar voz aos contemporâneos, revelar aqueles que ainda têm uma estrada por fazer". Nesse caminho, o objetivo de Micheliny é passar pelo crivo de sua autocrítica. "Preciso muito escrever bem. Reescreveria o "Geografia Íntima..." todinho. Meu exemplar está todo rabiscado."

Filha de um militar e de uma professora de geografia, diz que isso não tem relação com o título do livro. No entanto não nega a influência dos pais em sua formação. "Desde muito cedo ganhava livros. Era colocada para dormir ouvindo poemas", recorda. Hoje, ambos são seus leitores. "Eles são críticos e deslumbrados pelo monstro que criaram", brinca.
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Micheliny começou a cursar faculdade de psicologia, no Recife, mas não se identificou. Optou pelo curso de história, que cursou em Arcoverde, motivada por uma leitura "um pouco torta", nas palavras dela. "Não queria fazer letras, mas gostava de literatura. Escolhi história porque toda história é uma invenção, uma ficção a partir da visão de um herói", avalia.
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Para o blog Conexão Cultural é um orgulho fazer conhecer a escritora poetisa, Micheliny Verunschk: pela qualidade da sua poesia, e por ela ter morado por mais de uma década entre nós.

2 comentários:

Anônimo disse...

José, os artigos estão prontos.
aguardo resposta.
Abraço
Mariano Britto

Micheliny Verunschk disse...

oi, Edezilton! Tenho boas lembranças de Tupanatinga ( e da biblioteca do José Emílio). Obrigada pelo post!

Um grande abraço!