quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Repensando o modelo de vida que temos e os valores que cultivamos


Repensando o modelo de vida que temos e os valores que cultivamos


Nilson Antonio Ferreira Roseira
nroseira@yahoo.com.br


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Ultimamente, como colegas docentes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o prof. Dilson Cavalcanti e eu temos realizados várias reuniões, discussões e reflexões. Dentre os vários temas que já nos inquietaram, destacamos as relações entre Ciência, Tecnologia, Educação e Sociedade. Nossa reflexão sobre esse tema iniciou-se com a publicação de dois textos de autoria do colega Dilson Cavalcanti no jornal Conexão Cultural. A seu pedido, realizei a leitura dos textos e, desde então, passamos a discutir esse tema de maneira mais aprofundada.

Como conseqüência dessas discussões, elaboramos em parceria, um trabalho teórico o qual transformamo-lo em um artigo cujo título foi “O papel da educação frente aos avanços em ciência e tecnologia: alguns encaminhamentos teóricos”. Esse artigo foi submetido ao comitê científico das VIII Jornadas Latino Americana de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, tendo sido aprovado e, posteriormente, discutido a nível internacional durante esse evento, que foi realizado em julho de 2010, em Buenos Aires, Argentina.

Entre outras coisas, discutimos a “Educação em Valores” como uma das perspectivas teóricas para fundamentar o papel da Educação frente os avanços em Ciência e Tecnologia. É importante ressaltar a importância dos valores e suas manifestações nos processos educativos e na vida das pessoas. Nessa ocasião, quero aproveitar para expressar um pouco mais das minhas preocupações sobre este tema.

As pessoas não mais se surpreendem com a afirmação dos cientistas sociais de que vivemos um tempo de profundas transformações, pois, na verdade, não é preciso dominar os conhecimentos científicos para perceber como atualmente tudo tem se transformado com tamanha rapidez, diferentemente do que ocorria há certo tempo atrás.

Se demorarmos de retornar a um determinado lugar, certamente nos surpreenderemos com as mudanças que vamos encontrar sejam elas nos ambientes, nos móveis, na pintura das paredes, na forma de organização do espaço, etc. Se a nossa observação se concentrar em determinados produtos comerciais aí sim é certo que em pouco tempo notaremos a incorporação de mudanças visíveis. Por falar em produtos, já observou como os automóveis, os computadores e os celulares – apenas para citar alguns – mudam rapidamente de formato, linha de cores, modelos, recursos, etc.? Por que isso? Qual o objetivo dessa lógica? Você já pensou nisso?

A resposta a estas perguntas pode ser encontrada se refletirmos sobre o que nos acomete quando nos deparamos com um produto que se apresenta mais atualizado em relação àquele que já possuímos. Inevitavelmente, recai sobre nós o sentimento de que estamos atrasados, superados, um pouco mais velhos e para sair dessa situação incômoda e indesejável – muito embora o envelhecimento e a superação das coisas e processos seja algo natural – o “remédio” é comprar o modelo mais novo do nosso bem.
Mas as implicações dessa lógica não ficam apenas na dimensão financeira. A rapidez desse processo de desvalorização, já migrou para as relações entre as pessoas, de modo que a busca pelo corpo perfeito e pela boa aparência, a valorização das coisas fúteis e efêmeras e, como conseqüência, o culto pela juventude e a negação da maturidade e da velhice, tem se manifestado de forma evidente na sociedade em geral, ancorados no insistente reforço das mídias que não cansam de vender os padrões ideais de beleza e de sucesso como produtos que devem ser buscados por todos.

Por este mesmo processo de transformação passam os valores que dão suporte às atitudes e comportamentos das pessoas. Não é difícil identificar situações cotidianas que são, cada vez mais, sustentadas por interesses econômicos e de poder, tais como relações amorosas, a busca pelo título escolar e/ou acadêmico sem qualquer preocupação com o domínio de um conhecimento correspondente, a falta de ética nas relações interpessoais, o desrespeito pela dignidade das pessoas, a compra e a venda de votos, entre outras.

O enfrentamento de tais situações requer ações educativas efetivas e de caráter permanente na perspectiva da formação integral das pessoas, quer seja no âmbito da família, da escola ou de quaisquer outras instituições que possam desempenhar este papel, desde que estejam fundamentadas nos direitos humanos e na dignidade das pessoas. Isto significa reafirmar valores tradicionais que devem permanecer nas pautas educativas, mas também não deixar de estar atentos à consideração de novos valores, atitudes e comportamentos que de alguma forma possam vir a contribuir com a construção de uma sociedade mais humana.

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